Publicada em 04/02/2010 às 14h36m
O Globo; GloboNews TV
RIO - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, minimizou nesta quinta-feira as declarações do general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, candidato a uma vaga no Superior Tribunal Militar (STM), que disse que as Forças Armadas não devem aceitar a presença de gays. Jobim afirmou que a presença de homossexuais na carreira militar já está sendo debatida e, segundo ele, a posição do general não vai influenciar a decisão do Ministério da Defesa.
- Essa manifestação feita pelo general que foi inquirido no Senado para o Supremo Tribunal Militar não influenciará os debates internos porque isso não diz respeito ao tribunal que ele agregará - disse Jobim.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, classificou o episódio como lamentável:
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É lamentável que este tipo de discriminação ainda continue existindo nos dias de hoje nas Forças Armadas brasileiras
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- É lamentável que este tipo de discriminação ainda continue existindo nos dias de hoje nas Forças Armadas brasileiras - afirmou Ophir.
Segundo ele, o que se deve exigir de um militar é disciplina, treinamento e a defesa do país, nos termos da Constituição, independentemente de sua opção sexual.
"A defesa do país tem que ser feita por homens e mulheres preparados, adestrados e treinados para este fim, independente da opção sexual de cada um", declarou.
ONG diz que declaração é 'estapafúrdia' e revela conservadorismo
O grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) também criticou o militar. A presidente da ONG, Gilza Rodrigues, afirmou que a declaração é "estapafúrdia" e revela como o Exército ainda é conservador.
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É um disparate completo. Gays podem e devem atuar em quaisquer atividades profissionais
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- É um disparate completo. Lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais podem e devem atuar em quaisquer atividades profissionais, inclusive a militar. Fico surpresa e indignada ao ouvir declarações como esta de um representante do alto escalão das Forças Armadas, com indicação para ocupar uma cadeira no Superior Tribunal Militar. É preocupante - afirmou Gilza Rodrigues.
As declarações do general, que afirmou que a tropa se recusaria a acatar ordens de um homossexual, foram dadas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que aprovou sua nomeação para o STM. Referindo-se aos gays como "indivíduos desse tipo", Cerqueira Filho disse que eles não inspiram respeito dos soldados.
Na mesma sabatina, o almirante Álvaro Luiz Pinto disse tolerar a companhia de gays, mas desde que mantenham a "dignidade da farda". Pinto disse não se opor à presença de gays, mas impôs condições:
- Não tenho nada contra, desde que mantenham a dignidade da farda, do cargo e do trabalho. Se ele manter (sic) sua dignidade, sem problema nenhum. Se for indigno, ferindo a ética, aí eu não seria a favor.
Suplicy quer que Senado convoque general
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu nesta quinta para que o Senado convoque o general Cerqueira Filho para explicar aos parlamentares sobre as declarações de que gays não devem servir nas Forças Armadas. O senador petista justifica que elas foram dadas após a aprovação do nome do general, sendo importante que ele seja ouvido novamente.
Nos Estados Unidos, Obama quer acabar com restrição
Enquanto a inclusão de homossexuais nas Forças Armadas gera polêmica no Brasil, nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama quer acabar com a restrição para que gays sirvam no Exército . No fim do ano passado, Obama disse que iria acabar com a política do "não pergunte, não conte" que permite que gays sejam militares se não revelarem sua orientação sexual.
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