Não há quem negue que nunca bisbilhotou uma revista de mulher pelada do primo mais velho, ou leu contos eróticos em revistinhas de banca, ou espichou um olhar para a sessão de filmes pornôs da locadora do bairro. Os tempos mudaram - hoje em dia a internet proporciona todo o tipo de informação ao alcance de um clique. O fato é que a curiosidade sexual existe desde sempre. Todos, em alguma medida, querem saber, conhecer, ver e ouvir sobre este assunto tabu.
Eduardo Souza, 39 anos, conta que na sua adolescência o assunto era proibido em casa. Seu primeiro contato com o mundo do sexo foi ao ver revistas guardadas no fundo do armário do pai, "afinal, o que faziam aquelas revistas escondidas ali, sendo que todas as outras estavam à vista?"
As revistas pouco mostravam, os pais trancavam as portas dos quartos e a curiosidade corria solta nos intervalos de recreio nos colégios. Segundo Eduardo, "os filmes vieram juntos com o advento do vídeo cassete. Era novidade na época e um tio nos emprestou por uma semana o seu Betamax (formato de vídeo anterior ao VHS). E na época não tinham muitas locadoras. Então tínhamos que pedir emprestado a quem tivesse algum filme em casa. Um dia apareceram uns filmes diferentes com as revistas que ficavam escondidas. Aí uma coisa levou a outra e fui ver o que estava nas fitas. Era o conteúdo das revistas em movimento".
Qual o momento ideal para falar sobre sexo?
Segundo um estudo realizado pelos ginecologistas Nelson Vitiello e Isméri Seixas Cheque Conceição, da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana(SBRASH), "a educação sexual deve se iniciar nos primeiros momentos da vida de um indivíduo, fato que não acontece dada a falta de preparo das pessoas em lidar com o sexo".
A maioria dos pais, motivados pela própria iniciação sexual, preconceitos e tabus, evita tocar num tópico tão delicado com os filhos. Educação sexual acaba virando obrigação da escola, que por sua vez não tem como abordar um tema tão subjetivo sem o preparo necessário. Sexo então se torna um ato proibido. Muitas vezes é considerado feio e sujo, ficando reservado somente aos mais esclarecidos, modernos e descolados.
Ainda de acordo com o estudo realizado pelos especialistas Vitiello e Conceição, do SBRASH, "qualquer preconceito pode perturbar o processo educacional, mas preconceitos machistas, em especial, têm expressiva atuação no tocante à educação sexual. Um exame racional de nossas atitudes e ideias sobre papéis sexuais, homossexualidade e relações preconjugais, entre outros itens, pode melhorar a qualidade da orientação sexual, além de ajudar na busca do autoconhecimento e na melhora das condições de exercício de nossa sexualidade".
Como contou Eduardo, em casa o assunto era proibido, "então o jeito era perguntar aos colegas na escola. Uns tinham irmãs mais velhas, outros viam as revistas dos pais que também ficavam escondidas. No final todo mundo trocava ideias para ver se tínhamos todos entendido a mesma coisa".
Agora basta abrir algum site, clicar confirmando que se é maior de 18 anos e todo um mundo de pornografia se apresenta. Vídeos e fotos para todo o tipo de gostos, curiosidades e até estranhamentos. Todo mundo pode tudo, gostar do que quiser, se expressar como bem entender. Não importa o que os pais, professores ou médicos disseram, mas se existe a curiosidade sobre qualquer tema sexual, o acesso à ele na internet é muito fácil.
A iniciação sexual do brasileiroA vida sexual do brasileiro atualmente se inicia mais cedo. De acordo com estudo do Ministério da Saúde, a média de idade para a primeira relação sexual é de 14 anos. Como o acesso às informações é maior, os adolescentes encontram mais espaço para exprimir sua curiosidade, não se importando muito em aprender o necessário para manter relações saudáveis e evitar a contração de doenças ou uma gravidez indesejada.
Daniel Lima, um estudante de 18 anos, conta que sempre teve muita facilidade em explorar os assuntos sexuais dentro de casa, com os pais e irmãos. Fato que não influenciou uma iniciação precoce, "perdi a virgindade com a minha namorada, recentemente. Os pais dela tinham viajado e aproveitamos a situação. Nós dois éramos virgens e tínhamos muita vontade de transar, mas sempre faltava uma oportunidade".
O caso de Daniel é cada vez mais incomum, como ele disse, "a maioria dos meus amigos perdeu a virgindade com garotas de programas. E um amigo meu engravidou uma menina muito cedo, aos 15 anos". Para ele, a primeira transa aconteceu com tranqüilidade, ambos se sentiam preparados e sabiam os riscos de não se prevenirem.
É muito importante que os pais estabeleçam um canal de comunicação com os filhos. A liberdade em tirar dúvidas e apresentar questionamentos estimula um crescimento sexual saudável, além de evitar que problemas maiores venham a acontecer.
Esconder ou mostrar?
As revistas de teor erótico mais antigas sempre incitavam o homem a buscar pelo conteúdo pornográfico em seu interior. As capas pouco mostravam. Atualmente pode-se ver boa parte do corpo de uma mulher ou homem na capa de uma revista. O sexo está cada vez mais explícito, o corpo humano cada vez mais banalizado e nem por isso o assunto deixa de ser um tabu tão grande.
É na adolescência que surge, junto com a curiosidade pelo sexo e pelo próprio corpo, o interesse sexual. É nesta fase que o jovem vai descobrir suas tendências não só sexuais, mas a de um tipo de relacionamento ideal. Portanto se faz necessária a abertura ao diálogo, tanto na escola quanto em casa. A descoberta da sexualidade é um processo de extrema importância na vida de uma pessoa e deve ser administrado com muito cuidado e respeito.
"É preciso que se estabeleçam limites do que o jovem pode ou não saber, de forma a não atropelar sua iniciação", completam os especialistas da SBRASH.
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