Lucianne Carneiro
Especialistas apontam que fatores como a expansão do produção de veículos, a quantidade cada vez maior de itens de tecnologia e o menor prazo entre o projeto de um veículo e seu lançamento contribuem para que se registrem mais recalls de veículos. Ainda que, na história da indústria automotiva, já tenham sido registradas convocações grandes, como a da General Motors de 1971, de 6,7 milhões de veículos.
Confira a linha do tempo com os maiores recalls de todos os tempos
- Quanto mais se aumenta a produção e a tecnologia, maior é a possibilidade de aparecerem problemas nos veículos. No Brasil, a produção saltou de 1,7 milhão de unidades em 2000 para 3,2 milhões agora. Além disso, hoje existem muito mais itens elétricos - afirma o diretor da consultoria ADK Automotive, Paulo Roberto Garbossa, destacando, no entanto, que os recalls não são uma exclusividade da indústria automotiva. - Isso também acontece com geladeiras, telefones, brinquedos e até avião.
Ele explica que os veículos passam por extensos testes antes de serem lançados, mas a necessidade dos recalls ocorre principalmente no uso do carro em condições extremas.
Segundo dados do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, órgão responsável pela fiscalização de recalls no Brasil, foram feitas 39 convocações para veículos no ano passado. Na série histórica, é o maior número já registrado. O segundo lugar fica com o ano de 2002, quando houve 32 recalls.
Ao todo, quase 460 mil veículos estiveram envolvidos em 2009. O ano de 2000 foi o que registrou o maior número de veículos - 1,427 milhão -, mas o resultado daquele foi influenciado principalmente por uma única convocação da GM para o Corsa e o Tigra que envolveu 1,052 milhão de unidades. Em 2010, já são cinco convocações.
Para Vitor Meizikas Filho, da consultoria Molicar, outro fator que contribui para a convocação de recalls é o investimento cada vez maior em desenvolvimento e tecnologia, em função da forte concorrência entre as montadoras.
- O mercado automotivo está muito dinâmico e em um ano um modelo está superado. Se anos atrás o tempo entre o projeto de um carro e seu lançamento no mercado levava oito anos, hoje isso caiu pela metade - diz.
Meizikas ressalta que são feitos testes exaustivos durante a criação do veículos, mas que recalls acabando fazendo parte do processo de desenvolvimento.
- Estes não serão os últimos, outros recalls poderão ocorrer - aponta.
Recalls não indicam necessariamente baixa qualidade
Segundo o diretor de fiscalização do Procon-SP, Paulo Arthur Góes, a grande quantidade de recalls não significa necessariamente que há problemas de qualidade na indústria automotiva.
- Isso pode ser mais transparência e cuidado. O conceito do recall é de prevenção. Mesmo com todos os testes, há problemas que não podem ser previstos. O importante é que a questão se torne pública e o recall seja feito rapidamente e com ampla comunicação - afirma.
É preciso ficar atento, no entanto, diz Goés, se o mesmo automóvel é objeto de mais uma campanha.
Direitos do consumidor
A substituição ou reparo dos itens incluídos no recall deve ser feita sem qualquer custo para o consumidor e sem limite de prazo, ou seja, a responsabilidade do fabricante se mantém enquanto o veículo estiver no mercado.
'Recall' de carros: seus direitos e como atender ao chamado
E ainda que a montadora tenha seguido as exigências legais para um recall, o consumidor tem o direito a indenização caso ocorra um problema por causa do defeito no veículo.
- O fato de ocorrer uma campanha não exime a responsabilidade de uma indenização - aponta o diretor do Procon-SP.
Veja o passo a passo para atender a um recall de carro
Procurada pela reportagem, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que não se pronuncia sobre recalls.
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