Por Oskar Kaufmann*
São Paulo, 11 (AE) - Em 2009, o Ministério da Saúde brasileiro lançou a Política Nacional de Saúde do Homem, que visa combater o alcoolismo, o tabagismo, a obesidade e, principalmente, o câncer de próstata, entre outras doenças ligadas ao aparelho sexual masculino. Apesar de todo o esforço empreendido é necessário, acima de tudo, criar uma cultura de prevenção entre os homens. A saúde é um bem incomparável. E o homem deve ser disciplinado neste quesito, sobretudo, com o seu pênis. É como seguir alguns mandamentos da boa saúde.
O homem, que tanta importância dá ao pênis, acaba se expondo quando pratica relações sexuais sem usar preservativo, o principal método de prevenção, porque ele ajuda a evitar doenças como herpes simples, sífilis, HPV e AIDS. Sem a proteção, o homem fica vulnerável a contrair doenças que podem prejudicar sua saúde corporal e aparência do órgão genital e, em casos mais graves, interferir em seu desempenho sexual. O homem fala muito do seu pênis, mas é necessário olhar para ele e examiná-lo, pois é neste auto-exame que se pode identificar problemas, infecções ou doenças. E alguns desses problemas são causados por falta de higiene e podem ser constatados visualmente.
Algumas dicas práticas de higiene são: lave o pênis todos os dias com água e sabonete comum (não é necessário nenhum tipo especial de sabonete especial) e puxe bem o prepúcio para trás a fim de limpar completamente a região que fica coberta e não deixar o esmegma se acumular. Quando a higiene do pênis não é bem feita, o esmegma acumula-se e provoca mau cheiro. Além disso, facilita o aparecimento de inflamações e infecções. Para evitar irritação e assaduras, enxugue bem depois de lavar. Não use pomadas ou cremes sem indicação médica. Sempre que notar qualquer coisa diferente na região, como feridas, bolhas, corrimento, ardor ao fazer xixi, por exemplo, procure um médico. E caso tenha vida sexual ativa, deixe imediatamente de transar. Não tome remédio algum sem se consultar e não use remédios caseiros. Não deixe de procurar o médico mesmo que o sintoma desapareça sozinho. Avise a parceira para procurar um médico também. A melhor maneira de evitar esses problemas é fazer a higiene do pênis com muito cuidado no banho diário e usar a camisinha sempre que transar, antes de fazer qualquer penetração.
No entanto, não basta realizar somente uma boa higiene na área genital. É vital a realização de exames de prevenção de câncer de próstata, porque esta doença é a neoplasia visceral mais frequente do homem, representando mais de 40% dos tumores que atingem os homens acima de 50 anos. A incidência varia de acordo com o país e com a raça, sendo mais frequente nos Estados Unidos e Brasil que nos países orientais. Segundo a Sociedade Americana de Oncologia, estima-se uma incidência de 234.460 novos casos/ano e 27.350 mortes/ano nos Estados Unidos. No Brasil há uma incidência aproximada de 400.000 casos/ano.
A próstata é uma glândula exclusiva do sexo masculino e que se localiza logo abaixo da bexiga, envolvendo a uretra. Ela pesa entre 25 e 30 gramas e tem formato de uma noz. Sua consistência torna-se endurecida quando apresenta câncer. Ela produz cerca de 70% do líquido seminal, substância fundamental na vitalidade e no transporte dos espermatozóides. Portanto, a próstata representa um papel fundamental na fertilidade masculina.
Todo homem nasce programado para ter câncer da próstata, pois todos carregam em seu código genético os chamados "proto-oncogens", que dão a ordem para uma célula normal se transformar em outra maligna. Isto só não ocorre indiscriminadamente porque a função dos proto-oncogens é antagonizada por outro grupo de gens protetores, chamados de "supressores".
A origem do câncer de próstata é desconhecida, entretanto, presume-se que alguns fatores possam influenciar o seu desenvolvimento. Entre eles, o fator genético, visto a incidência desta neoplasia ser maior em familiares portadores da doença. A relação com hereditariedade existe e é bem clara. Um homem que tenha um parente de primeiro grau com câncer de próstata tem, em média, duas vezes mais chances de ter a doença. Com dois parentes relacionados, o risco de desenvolver este câncer sobe para quase nove vezes. De maneira geral, esta doença acomete cerca de 10% dos homens após os 50 anos. À medida que a idade avança, as chances crescem, chegando a acometer cerca de 50% dos homens aos 75 anos.
Levando em conta a relação custos/benefícios, definiu-se que a melhor forma de diagnosticar o câncer da próstata é representada pela combinação de toque digital e dosagem do PSA. O toque exclusivo falha em 30% a 40% dos casos, as medidas de PSA falham em 20%, mas a execução conjunta dos dois exames deixa de identificar o câncer em menos 5% dos pacientes.
A prevenção do câncer da próstata não pode ser feita de forma eficiente, no momento, porque ainda não são conhecidos os fatores que modificam a maquinaria celular, tornando-a maligna. Hábitos dietéticos talvez possam reduzir os riscos de câncer da próstata. Neste sentido, tem-se recomendado alimentação com baixo teor de gordura animal, comum nos países onde a incidência da doença é baixa (apenas 15% do total de calorias sob forma de gordura). A ingestão abundante de tomate e seus derivados parece diminuir de 35% os riscos de câncer da próstata, segundo estudo realizado na Universidade de Harvard. O efeito benéfico do tomate resultaria da presença de grandes quantidades de lycopeno, um beta caroteno natural precursor da vitamina A.
A recomendação é que os homens com idade acima de 40 anos com história familiar positiva para câncer de próstata e 45 anos, sem história familiar, façam os exames periódicos para a detecção precoce do câncer de próstata, com o toque retal da próstata e o PSA. Estudos sobre crescimento tumoral indicam que as formas agressivas do câncer da próstata, quando não tratadas, levam entre dois e oito anos para se ramificar pelo organismo, tornando a doença de difícil controle. Desta forma, um exame preventivo anual sempre identificará o tumor ainda dentro da próstata e potencialmente curável.
*Oskar Kaufmann é médico urologista e especialista em cirurgia robótica em urologia. Graduado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina, com doutorado pela Divisão de Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). É membro da Sociedade Brasileira de Urologia, American Urological Association, Endourological Society e acaba de retornar ao Brasil após o período de um ano de pós-doutorado em Endourologia, Laparoscopia e Cirurgia Robótica pela Universidade da Califórnia. Integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital do Homem. Possui mais de 30 trabalhos publicados em veículos científicos nacionais e internacionais.
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