Richard Wiseman: Um dos motivos é que elas têm experiências paranormais. Na verdade, essa é a essência do livro: tentar entender por que as pessoas têm essas experiências estranhas, uma vez que espíritos não existem. Há também a noção de que as crenças são muito reconfortantes. Se você está doente, a ideia do “curador psíquico” é boa. E depois, há a influência da indústria paranormal. Os livros, os programas de televisão, as experiências psíquicas, todos têm interesse em fazer com que o público acredite nesse material.
RW: Não, eu tendo a ser um pouco cético. Trabalhei nessa área por cerca de 20 anos e nunca vi nada que me convencesse de que qualquer dessas coisas fosse verdade. O que eu tenho visto é que as pessoas têm experiências estranhas, quer com fantasmas ou atividades psíquicas, que nos dizem algo sobre o seu cérebro, seu comportamento e suas crenças.
RW: Eu acho que cada coisa nos diz algo um pouco diferente. Por exemplo, a paralisia do sono, que é a noção de acordar completamente imóvel, vendo uma figura ao pé da sua cama e você se convence de que este espírito maligno ou força demoníaca está a segurando, mantendo-lhe imóvel. Isso diz muito sobre a psicologia do sono. Quando dormimos, estamos paralisados; por isso, não “agimos” o que estamos sonhando. Essa experiência do sonho pode acontecer quando você acorda junto com a paralisia.
RW: Acho que fantasmas, ou a noção de que as pessoas veem algo no canto dos olhos, especialmente se estão em um local “assombrado”. É o poder da sugestão, bem como o medo. Quando estamos com medo, o sangue flui da ponta dos dedos aos músculos principais do corpo, e você se prepara hormonalmente para “fugir ou lutar”, e isso pode lhe deixar frio. Você também pode tornar-se hipervigilante, assim, você começa a perceber passos ou vozes que não teria notado antes, e assumir que é algum tipo de atividade paranormal.
RW: Essas investigações foram realizadas no Hampton Court Palace, um palácio real ao sul de Londres, e em Edimburgo, na Escócia, supostamente um dos lugares mais assombrados do Reino Unido. Levamos pessoas até lá e pedimos que elas dissessem quais locais pareciam mais assombrados. Elas escolhiam frequentemente os mesmos locais. Parte das razões é que os locais eram às vezes fisicamente mais frios, devido a padrões térmicos. Às vezes, eles tinham um tipo de som estranho, de baixa frequência, que pode ser causado pelo barulho do trânsito ou o vento através de uma janela aberta. Ou os lugares apenas pareciam um pouco assustadores, porque eram escuros e nós temos um cérebro que evoluiu para nos manter fora de lugares escuros por um bom motivo.
RW: Não, eu só descobri que eles são muito bons em enganar as pessoas. Nesse caso, eles têm capacidades muito especiais, mas de enganação. A crença paranormal cruza a linha entre ser divertida para se tornar algo sério. As pessoas vão para médiuns porque têm problemas, sejam pessoais ou financeiros. Mas você está falando com alguém que, ao contrário de um terapeuta profissional que lhe daria ferramentas para resolver seus problemas, apenas lhe dá conselhos. Você se torna dependente deles. E não há maneira de saber se eles estão dando bons conselhos, pois eles não são treinados para isso. Não há regulamentação no setor. Então, você está colocando sua vida nas mãos de uma pessoa que não sabemos se é confiável.
RW: Há a noção de que algumas afirmações gerais são verdadeiras para todos. Como “você tem um monte de criatividade não expressa”. Todo mundo quer acreditar que isso é verdade. Ou às vezes há frases com duplo sentido, como “às vezes você gosta de ser o centro das atenções em uma festa, e às vezes você gosta de ficar em casa com um livro”. Isso é verdade para todos. No mais, as pessoas ignoram o lado que não se aplica a elas. Há a “leitura a frio” também, onde os “psíquicos” se guiam pelo que você apresenta. Eles dizem algo como “você vai viajar em breve”, e se não obter resposta, eles vão dizer que talvez seja uma pequena viagem de fim de semana, mas se você começar a balançar a cabeça em afirmativa, quase concordando inconscientemente, eles dizem que deve ser uma grande viagem. Com tudo isso, você está fazendo o trabalho para eles. Se vale algo, eles é que deveriam estar pagando você.
RW: Não sei bem. Eu suspeito que seja cultural. Cerca de 40 a 50% das pessoas no Reino Unido e na Europa alegam ter experiência paranormal, contra 70 a 80% nos EUA. Eu suspeito que parte disso seja a programação: livros, rádio e televisão empurrando a agenda psíquica. Acrescido de alfabetização, a ciência é maior no Reino Unido do que nos EUA, talvez por isso a indústria psíquica passe mais sua mensagem desse lado do mundo.
RW: Fugir aos gritos é sempre bom. Brincadeira. Apenas saber o que está acontecendo ajuda. Meu livro incentiva as pessoas a fazer sessões do tabuleiro Ouija (brincadeira famosa. Se trata de qualquer superfície plana com letras, números ou outros símbolos em que se coloca um indicador móvel, utilizada supostamente para comunicação com espíritos. Conhecida também como “brincadeira do copo”). Não se trata de convocar espíritos, mas sim do movimento dos jogadores inconscientes que empurram o copo. Peça para o espírito soletrar seu nome. Se colocar as letras viradas para baixo e misturadas, vai ver como o “espírito” se tornará disléxico. Da mesma forma, depois de entender a paralisia do sono, ela não é tão assustadora. Ao compreender essas coisas, elas se tornam muito menos “fantasmagóricas” e bem mais plausíveis.
[LiveScience]
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