Adeus a Amy Winehouse...

Amy, Amy, Amy…

Amy Winehouse se encaixava naquele perfil que os gays adoram numa “diva”: uma pessoa excepcionalmente talentosa, porém com uma vida pessoal bem conturbada. Tal drama pessoal era sempre recebido com certa empatia, apesar de servir também como piada, porém o que as pessoas mais esperam dessas artistas é o ressurgimento das cinzas. Tal qual uma fênix, elas superam todos os problemas e acabam chegando ao topo do estrelato para serem eternamente celebradas. Infelizmente Amy nem teve tempo para isso.

Muitos poderiam não gostar de seu estilo, mas para quem gosta de música no estilo jazz e R&B dos anos 60, Amy Winehouse era a salvação diante de um mundo cada vez mais tomado pelo pop e eletrônico. Seu estilo vintage, vozeirão e letras confessionais, de fazer até quem nunca amou suspirar por compaixão, pegaram o público de vez.

Parece que é regra que o público ame os discos de cantoras feitos durante ou após um rompimento amoroso. Aconteceu com Erykah Badu (Mama’s Gun), Mariah Carey (Butterfly), Adele (21), entre outros… E com todas o sucesso foi significativo, de público e crítica. Porém, aquele drama que se via nas canções de “Back to Black” não era fruto de uma pessoa que de vez em quando caia na fossa e usava a música como subterfúgio para sua desilusão. Não era o começo de uma carreira, já era o fim. Se para muitos o disco “Back to Black” seria apenas uma fase a ser superada, com várias outras obras a serem lançadas pela frente, outros enxergaram a verdade: que o disco era uma afirmação de que aquela era sua vida, não só uma fase. Portanto não há como não ficar refletindo sobre como usamos e abusamos dos conflitos dos artistas. É incabível criticá-la dizendo que foi a própria Amy que trouxe sua ruína sendo uma viciada, sendo que o vício foi um dos motivos para que seu disco saísse daquele jeito. De uma maneira ou de outra, acabamos colaborando para sua situação. Para muitos era divertido vê-la desacordada nas ruas, sendo fotografada com o nariz sujo de pó e caindo no palco…

Não há como não ficar triste ao pensar que muitas pessoas só passam por este mundo para nos entreter, fazendo-nos esquecer de nossos dramas assistindo o dos outros. E até mesmo depois de sua morte, sua vida serve como desculpa para piadinhas e críticas sem sentido. Afinal, quer coisa mais fácil, mais rasteira, do que criticar a vida de artistas para esquecer da inutilidade da sua própria? E acabam esquecendo de que ela, antes de artista, era uma pessoa. Uma pessoa que os pais, amigos e fãs nunca mais poderão vê-la novamente. Infelizmente, parece que quanto mais talento uma pessoa tem, maior é o fardo que ela tem que carregar. Ontem uma chama no céu, que só os apreciadores de boa música podiam ver, se apagou.