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Bom dia a todos os militantes pelos direitos humanos e principalmente militantes contra a "Homolesbotransfobia", os que militam no mundo real e os que militam no mundo virtual já que os dois mundos se complementam.
Já acordei e Super disposto pra luta então quem estava de plantão pode ir dormir que eu já estou BEM ACORDADO por nós todos.
Que a força na qual vocês acreditam lhes ilumine e proteja no sono sagrado dos guerreiros e guerreiras da justiça, amor, paz e igualdade e esteja convosco no despertar.
Com vocês sou forte para mudar o mundo, sem vocês sou apenas um eco no vazio batendo na montanha e voltando.

Luta pela igualdade social... Direito de todos.
Lute duramente pelos seus direitos
apenas não se entregue!
Lute duramente pela sua vida
vá! Você deve chegar lá...

luta, luta, então mais luta
apenas, apenas nunca, nunca desista!
Através da mente...
voando...
cultivando sabedoria e serenidade
para perceber o quão pequeno nós somos
na frente desse grande poder
nem orgulho, nem ego pode prevalecer
Agora...
ninguém pode viver a minha vida
o que importa é o que eu faço
define quem eu sou!
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seja lá o que os meus medos possam dizer
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sexta-feira, 1 de abril de 2011

PESQUISA SOBRE A DIVERSIDADE SEXUAL NO SÉCULO XXI...

                                                                                                                                                                  1


INTRODUÇÃO
"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". Albert Einstein
A proposta desta pesquisa é examinar os caminhos da chamada diversidade sexual no século XXI, pesquisar as relações sociais, destacando o papel da escola e as ações dos educadores perante este fenômeno social. Nos últimos anos, temos visto pesquisas que vem tentando entender a diversidade em todas as esferas sociais, e principalmente no âmbito de nossa sexualidade. Em nossa concepção, descrições restritas dos indivíduos tem provocado em alguns um "conflito identitário", a tal ponto que se pode tornar difícil descrever-se a si mesmo, diante da multiplicidade identitária que o conceito de identidade de gênero e sexual demonstram.
A partir da observação informal, depoimentos, do trabalho de campo realizado nas localidades de Sepetiba e Santa Cruz, bairros localizados na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro RJ, onde os moradores sofrem de expressiva exclusão cultural e social, podemos verificar que existe uma necessidade dos educadores refletirem sobre o que pensam em relação à diversidade sexual na atualidade, as diversas orientações sexuais existentes, à própria sexualidade da juventude devido à tamanha desinformação verificada, e conseqüentemente colaborarem, por meio de seu trabalho pedagógico no ambiente da escola ou mesmo fora da sala de aula, no esclarecimento dos adolescentes e jovens quanto suas orientações e/ou identidades sexuais e na diminuição dos preconceitos, da descriminação e logicamente dos conflitos identitários.
Sabemos, em grande parte, que a partir do nosso encontro com ideologias ou visões do mundo provenientes das grandes religiões ocidentais (o catolicismo, o judaísmo e o protestantismo), que o Ocidente tem uma "aquisição histórica" num tipo de sexualidade: aquela que permite a organização social a partir de um determinado tipo de família, baseada num casal heterossexual e monogâmico e que abrevia a prática sexual dirigida apenas para fins de procriação. Além disso, sabemos que, a partir da popularização das idéias de Freud, as possibilidades humanas de expressão sexual se chocam constantemente contra os limites colocados por essas formas institucionalizadas de prática sexual. O pensamento freudiano sugere que as instituições que criamos nos limitam, e nos restringem de maneira que instituem repressão, violência, mal-estar individual e coletivo. E a nossa história recente afirma que os mesmos                                                                                                                              2

processos de institucionalização da sexualidade estão sempre em transformação, e são mutáveis também porque nós os alteramos no nosso dia-a-dia, na atividade política, social e cultural.
A sexualidade humana assume novas formas a cada passo do ciclo da vida ao transcorrer por todos os aspectos de nossa existência. O controle sobre a liberdade em exercer a sexualidade como bem desejar sempre ocorreu em todas as épocas e em todas as culturas (Freud, 1981) e ainda ocorre.
No capitulo 1 – Sobre a sexualidade- Saberes e concepções, tratamos essencialmente das questões
teóricas de maior importância para compreensão dos temas abordados em nossa pesquisa, para tanto, utilizamos Foucault, Butler, Rubin, Louro e ainda Giddens. Procuramos nos ater as reflexões sobre o corpo e, o fato de que a idéia do corpo na constituição de nossa identidade não é tão contemporânea como até então imaginávamos. Autores como Costa (1995), Foucault (1988), Giddens (1993) entre outros, repetiram que era através da anatomia do corpo que as diferenças entre homens e mulheres eram definidas no período vitoriano, constituindo um mecanismo de repressão através da distinção anatômica entre os sexos. "O corpo é aquilo que deve estar sempre submisso e dócil" (Foucault, 1988). A espécie humana é transformada, então em uma "população".Tratamos também neste capítulo das regulações de gênero através dos dispositivos da sexualidade, da "repressão" e/ou da hipótese repressiva, bem como do chamado "bio-poder".
Traçamos no segundo capítulo um breve histórico e algumas considerações sobre a sexualidade humana, como já nos mostra o próprio título, abordamos o surgimento da nomenclatura "homossexualidade", o exercício da sexualidade na antiguidade clássica e no mundo industrial burguês. Trouxemos a tona as dicotomias referentes às identidades de gênero e a diversidade sexual (hetero e homossexualidade), o conceito de identidade, abordado de forma geral, pois entendemos que identidade é um conceito em formação e em constante transformação e não se encontra fechado em si, tanto as identidades sexuais como de gênero, bem como o conceito de individualidade. No que tange ao período de nosso interesse, o século XXI, buscamos neste item a compreensão do conceito de pós-modernidade e no que o mesmo influencia na formação, e de certa forma, na mutação das "novas identidades", da individualidade, das subjetividades e no surgimento dos conflitos identitários, nos baseando em dois autores específicos, Anthony Giddens e Lyotard.                                                       3

No terceiro e último capítulo expomos os dados coletados através de nossa pesquisa de campo, relatos de experiências vivenciais e análise dos resultados obtidos a partir da aplicação de questionário. Focalizamos nos PCNs principalmente o Tema Transversal de nosso maior interesse: A orientação/educação sexual. Argumentamos que o discurso contido nele é uma forma de homogeneização cultural, o cultivo de conhecimentos e valores supostamente "úteis e necessários a todos", negligenciadas nessas posturas, estão as relações de poder que atravessam tais conhecimentos e valores. No que se refere ao caderno de Orientação Sexual, a visão de sexualidade dita nesse discurso, vem ao encontro da "boa saúde sexual", isto é, conduzem à higienização da sexualidade, a educação e/ou orientação sexual de caráter higienizador; convidando o indivíduo a ser "responsável" pela higiene do corpo, pela sua integridade física e moral, "orientando comportamentos" e atitudes sexuais, e abordando o tema corpo/organismo geralmente ligado ao aspecto biológico e reprodutivo somente, o que acaba por silenciar outras questões, tais como, relações e constituição de gênero, sexualidade infantil, homossexualidade, bissexualidade, enfim a diversidade sexual, desprezando a realidade escolar brasileira, na qual a diversidade, a multiplicidade de identidades, sociais, sexuais, étnicas e o multiculturalismo são uma realidade.                                                                                     4




CAPÍTULO I – SOBRE A SEXUALIDADE: SABERES, CONCEPÇÕES.


Sempre que abordamos assuntos que escapam dos conceitos da chamada "normalidade", do que entendemos como "certo" e "errado" na sociedade, o cuidado com as palavras, com a linguagem utilizada, e o respeito, devem estar sempre presentes. A sexualidade dos indivíduos é um desses assuntos. Trata-se de um tema que envolve comportamentos, sentimentos, o modo de ser, de viver e de amar de cada um, e tudo isso é "carregado" de uma história de vida, ocorrida dentro de um determinado contexto social, com laços familiares e afetivos específicos, recheada de crenças e valores peculiares. Por esses e outros motivos devemos nos cercar de respeito e cuidado com esta questão, mas nem por isso negligenciá-la, pois se trata de uma importante questão na formação dos indivíduos embrionários, ou seja, em formação, dos jovens, dos adolescentes, justo para prevenir tragédias, conflitos, desentendimentos, dentre outros problemas sociais como a evasão escolar, violência devido ao preconceito etc ocasionados muitas vezes pela ausência de diálogo quanto a este assunto.

De acordo com os dicionários da língua portuguesa consultados1, sexualidade é: "substantivo feminino, qualidade do que é sexual; conjunto de todas as condições anatômicas e fisiológicas que caracterizam cada um dos sexos".


Uma definição um tanto quanto restrita, limitadora, pois também podemos entender a sexualidade como a necessidade de receber e expressar afeto e contato íntimo, que proporciona sensações prazerosas. A sexualidade não se resume apenas à prática sexual, ao ato sexual, nela também estão inseridos, o toque, o abraço, o gesto, o afago, ou mesmo uma palavra.

Essa forma de manifestação da sexualidade une-se a outras com as quais vínhamos nos familiarizando, habituando-nos desde quando éramos bebes, formando, construindo a sexualidade adulta dos indivíduos. Neste momento não nos referimos à sexualidade no sentido de orientação sexual e sim do exercício da mesma, como, por exemplo, as preferências no exercício do ato sexual e não às preferências pelo "objeto" de desejo, pelo indivíduo com quem se pratica o ato. Pode-se também entender a sexualidade quando estamos falando e pensando sobre nossas sensações e/ou sentimentos que envolvem a energia sexual. Falando-se em energia sexual

1
Dicionário Aurélio, Melhoramentos, dicionários on line dentre outros.                                                                                                                                    5
devemos nos referir a "libido" que no sentido psicanalítico é a energia motriz dos instintos de vida, portanto da conduta ativa criadora do homem.
A psicanálise por Sigmund Freud, na primeira metade do século XX, desenvolveu estudos sobre a sexualidade humana e direcionou para uma série de afirmações que escandalizaram a sociedade da época, pois falar em sexualidade já era complicado, imagine então sobre a sexualidade na infância. Freud desmistificou a crença da criança assexuada o que contribuiu demasiadamente para a compreensão e análise posteriormente das orientações sexuais existentes, sendo retirada, mais tarde, a homossexualidade da lista das patologias, uma vez tendo-se observado e comprovado que os indivíduos já nascem com suas orientações sexuais definidas, ou mesmo vão a construindo até a idade adulta, não se tratando, porém, de uma doença.
Antes da disseminação das idéias freudianas não se fazia idéia de que haveria um período intermediário entre a infância e a idade adulta, o termo adolescência também passou a ser utilizado muito recentemente, e da mesma forma que as nomenclaturas, termos, taxonomias, entram e saem do nosso vocabulário, ocorrem diversas mudanças em nosso comportamento social e sexual de acordo com a época e com o contexto social em que estamos inseridos. Provavelmente porque a evolução humana seja feita pela práxis, pela experiência vivencial, pela construção e evolução de nosso modo de pensar, agir, relacionar, comunicar, ser, sentir, amar. Sabendo disso iniciamos a nossa pesquisa tendo como objeto principal de análise não o adolescente do século XXI, e muito menos o pré-adolescente, mas sim "o jovem", buscando uma visão mais abrangente.
O jovem do século XXI é visto como livre, bem informado, atualizado, "linkado" com os acontecimentos, mas as pesquisas mostram que quando o assunto é sexo há muitas dúvidas e conflitos. Desde dúvidas simples sobre questões biológicas, como doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, até conflitos sobre os valores e as atitudes que devem tomar em determinadas situações. Apesar de o jovem contemporâneo iniciar a vida sexual mais cedo, ele não tem informações e orientações suficientes. A superbanalização de assuntos relacionados à sexualidade e das relações afetivas gera dúvidas e atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de forma conflituosa com os outros e conseqüentemente com a sua própria sexualidade.

Atualmente existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo tempo em que as pessoas são, em comparação há alguns anos atrás, mais livres para fazer escolhas no campo afetivo e                                                                                                                                             6

sexual, ainda há muita cobrança por parte da sociedade, e esta cobrança acaba sendo internalizada, e assim as pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria, seguindo conceitos religiosos ou impostos pela mídia.
A sexualidade atualmente representa um tema bastante confuso, pouco falado e até certo ponto polêmico, e se isso ocorre com a sexualidade em geral, imagine então quando falamos em diversidade de orientações sexuais? Homossexualidade, pansexualidade, pomosexualidade, bissexualidade, enfim, das diversas orientações sexuais existentes.
Cabe uma reflexão sobre como esse anacronismo dissimulado está influenciando na formação das identidades sexuais contemporâneas desses jovens.

1.1
Reflexões: O corpo, O sexo. Uma abordagem teórica.

Antes de prosseguirmos no que concerne a sexualidade, devemos expor que Segundo Louro (2003), no conhecimento do humanismo ocidental doutrinou-se a reflexão do corpo como um artefato menos valorizado em uma série de conjugações: corpo-alma, corpo-espírito, corpo-mente, corpo-razão; nas junções, o corpo limitava-se aos espaços descritos pela natureza em contestação aos da cultura, o lugar do arcaico em oposição ao racional ou ao humano. Assim sendo, o corpo, não poderia ser refletido como extensão cultural, ou influenciado pelos aspectos políticos. Ainda de acordo com Louro (2001), aparentemente, o corpo é inequívoco, evidente por si. Em conseqüência, espera-se que o corpo dite a identidade, sem ambigüidades nem inconstância.
A anatomia do corpo divide os seres humanos em tipos físicos distintos quanto à sua genitalidade e/ou identidade biológica, estabelece-se no meio sócio-cultural, inclusive, qual a imagem de homem e qual a imagem de mulher que se deve tomar como realidade única possível. Fora dos padrões, hoje, estariam os "andrógenos", um misto de "nem homem, nem mulher", mas um tipo ambíguo, como são concebidos alguns homossexuais masculinos e femininos, cujas identidades são opostas ao seu sexo anatômico, ou também podemos aqui nos referir aos travestis, por exemplo.(Louro 2001).
É interessante ressaltarmos que a imagem formulada em torno do corpo, possibilita também ao sujeito criar um conceito próprio da sua sexualidade, da sua masculinidade, da sua feminilidade ou de ambos. Foi o que Giddens chamou de "auto-identidade", como constituinte      da                                                                                                                  7                     7

nossa sexualidade. É o reconhecimento de si que se afirma enquanto representação social e sexual que a auto-identidade revivifica em nós. (Giddens, 2002).
Podemos afirmar que a percepção do corpo como lugar para o sexo, seja considerado "normal" ou "anormal", "licito ou ilícito", fundou uma positividade: a do próprio corpo. Por isso Foucault2 procurou exteriorizar sua posição indicando as razões pelas quais o homem contemporâneo é levado sempre a ter uma "vontade de saber" sobre sexo; vontade de saber que tem nas práticas e nos discursos da "verdade" do sexo seus referentes: vontade em torno da qual uma ciência do sexo se ergueu no final do século XVIII, consolidando-se no século XIX e chegou a seu ápice com o advento da psicanálise.(Foucault, 1984).
Segundo Foucault, o sexo é visto enquanto núcleo onde se aloja a "verdade", dos sujeitos humanos e da espécie. Ele afirma que não compreenderemos a emergência do dispositivo da sexualidade dominante em nossa época se antes não superarmos a representação que fazemos da sexualidade. Essa forma de representar a sexualidade consiste em associá-la à repressão. É comum ver-se a questão da sexualidade ocidental como um processo linear e irreversível de repressão crescente. Diz-se, então, que inicialmente havia uma certa liberdade, observada até o início do século XVII3, que, devagar, foi sendo reduzida, até a ponto de silenciar a sexualidade na época contemporânea. Silêncio levado ao seu extremo no período vitoriano, com sua moral repressiva. Foucault critica essa "hipótese repressiva". Para ele, tanto a "hipótese repressiva" como a crítica da repressão são equivocadas, porque ambas fazem coincidir poder com repressão, supondo que se possa, através da crítica da repressão, desestabilizar as relações de poder. Ao contrário, ele vê a repressão sexual como "positiva", como elemento intrínseco da lógica produtiva do poder.
2
Foucault opõe dois conceitos Ars erotica, própria de civilizações como Roma, Índia, China, etc., buscavam no saber sobre o prazer formas de ampliá-lo, era um saber de dentro, onde a verdade sobre o prazer é extraída do próprio saber.No ocidente configurou-se a scientia sexualis, onde a confissão é central na produção de saberes sobre o sexo. Os ocidentais são levados a confessar tudo, expor seus prazeres, uma obrigação já internalizada. A confissão estabelece uma relação de poder onde aquele que confessa se expõe, produz um discurso sobre si, enquanto aquele que ouve interpreta o discurso, redime, condena, domina.No século XIX o procedimento da confissão extrapola a penitência, extrapola o domínio religioso. Há uma sobrecarga de discursos, e a interferência de duas modalidades de produção da verdade: os procedimentos da confissão e a discursividade científica.
Foucault enumera as maneiras, as estratégias usadas para extorquir a verdade sexual de maneira científica:
1- codificação clínica do fazer falar: a confissão é assim inscrita no campo de observações científicas;
2- postulado da causalidade geral e difusa: qualquer desvio possui consequências mortais, o sexo representa perigos ilimitados;
3- princípio da latência intrínseca da sexualidade: o sexo é clandestino, sua essência é obscura. A coerção da confissão é articulada à prática científica;
4- interpretação: a verdade era produzida através dos discursos interpretativos da confissão;
5- medicalização: confissão é transposta no campo do normal e patológico. Os médicos são por excelência os intérpretes da verdade sobre o sexo.
3
(observe que durante este período a igreja ainda exercia imenso poder nas relações tanto comerciais como pessoais dos indivíduos)                                                                                                                                                                                 8

Naturalmente há um elemento "negativo" na repressão, afinal, ela subentende subordinação, sujeição, submissão. Mas para Foucault o importante é o elemento estratégico elemento estratégico e, em função disso, afirmou que a repressão é produtiva, uma vez que, através de sua ação sobre o corpo do indivíduo, ela evita que este perceba o poder em sua forma angustiante de brutalidade e descaramento, cinismo e audácia. Ao disfarçar os mecanismos do poder, os dispositivos fazem com que o mesmo apareça como elemento distante, isolado e isolável; criam um espaço de aceitação do poder na medida em que se apresentam como puro limite traçado à liberdade. Desse modo, fazendo a genealogia da "hipótese repressiva", e tendo mostrado como ela foi lançada e qual o papel que ela desempenhou na atualidade, Foucault acaba por mostrar que ao invés de "repressão" houve, ao contrário, a partir do século XVIII, uma verdadeira explosão discursiva em torno do sexo. Explosão que estabeleceu ao redor da temática do sexo diferentes posturas e produziu, conseqüentemente, novos saberes e novas tecnologias do poder, a que Foucault chamou de "bio-poder". 4

Essa tecnologia e novos saberes organizam sobre o corpo uma compreensão, uma inteligência, eminentemente instrumental. O corpo é aquilo que deve estar sempre submisso e dócil, como podemos observar na obra "Vigiar e punir" . A espécie humana é transformada, então em uma "população". Como afirma Foucault:
"Os governos percebem que não têm que lidar simplesmente com sujeitos, nem mesmo com um "povo", mas com sua "população", com seus fenômenos específicos, e suas variáveis próprias: natalidade, mortalidade, esperança de vida, fecundidade, estado da saúde, incidência das doenças, forma de alimentação e habitat." (Foucault, 1984 p.28).
 
Essa questão em nossa concepção está atrelada ao fato de hoje haver aparentemente uma "permissão" e/ou aceitação ou mesmo "permissividade" da homossexualidade na TV, visto que aqueles que controlam e manipulam os meios de comunicação também fazem parte das estruturas de poder nas sociedades. A estrutura da sociedade brasileira se reflete na linguagem da mídia de forma autoritária, elitista, desfavorecendo determinados seguimentos da sociedade, porém a partir de meados da década de 1990, isso vem sendo modificado devido a percepção de que essa massa

4
Foucault entende por "bio-poder" a tecnologia que toma o corpo como objeto de manipulação e a espécie humana como uma forma da vida biológica que deve ser compreendida a partir de sua finalidade política.                                                                  9

deixada de lado e ridicularizada muitas vezes na TV por meio de personagens caricatos, "os homossexuais", são um grande mercado consumidor e eleitores em potencial, tanto que observamos o assédio de determinados políticos à alguns de nossos entrevistados de grande evidencia e visibilidade em seu meio social. Além disso, notamos uma mudança no comportamento de alguns políticos mais perspicazes e bem articulados, que percebem a necessidade de uma atenção especial a esse segmento especifico da sociedade, como por exemplo, na parada Gay deste ano (2007) em Copacabana, bairro do Rio de Janeiro RJ com um trio elétrico exclusivo para representantes do governo, inclusive o próprio governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, compareceu na Parada com sua esposa e deu declarações de apoio a causa GLBTT5, de certo modo isso significa um avanço e também comprova a afirmativa de Foucault (1984).
Neste sentido, o sexo torna-se o problema fundamental, porque nele estão envolvidas as questões relativas aos processos de administração da população em geral. É em torno dessa necessidade de administração, dominação e manipulação que se constituem saberes científicos, exortações religiosas, pronunciamentos jurídicos e políticos e tantos outros discursos que visam controlar inclusive os pequenos atentados contra a moral, "pequenas perversões sem importância" (Foucault, 1984). Discursos que não devem ser tomados apenas como elementos do que é dito, mas também o que se apresenta como não dito, isto é, tanto um saber como uma tecnologia que controla o gesto, o olhar e a conduta de uma população. É neste espaço, criado pelo "bio-poder" enquanto saber e técnica direcionada à vitalidade do corpo, que se constitui o dispositivo da sexualidade.

Se entendermos a sexualidade como um dispositivo estratégico, distribuído entre as articulações concretas da vida social, materializadas na história, e sob a ação humana estruturadas como práticas discursivas e discursos práticos correlacionados, em um horizonte cultural determinando a campos do saber, tipos de normatividade, e formas de subjetividade (Foucault 2003) poderemos entendê-la como enraizada no solo histórico das formações discursivas que se realizam nesses modos específicos, constituindo o sujeito do desejo.

O desejo não está fora da história e a sexualidade não é, nesse sentido, uma invariante da espécie humana ou uma manifestação de correntes instintivas pré-significadas, ou pré-

5
Sigla utilizada para designar as minorias sexuais, GLBTT: Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais(Transgêneros).                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     10

discursivas. Ao contrário, é inteiramente significada e construída com a matéria-prima disponível das determinações discursivas. O que movimenta estas determinações são as disputas sempre caracterizadas pelas influências culturais, ideológicas e sociológicas em vigor, por poder, prestígio, influência, satisfação, ou seja, a sexualidade é sempre contextual e ocorre nos ambientes sociológico determinado, que são estruturados, diferentemente de acordo com a história assentada nesses contextos, que se definem pelas características objetivas materialmente presentes.

O dispositivo da sexualidade6 tem sua razão de ser: fazer o sexo conhecido. Isto fica claro quando Foucault introduz um novo elemento em sua reflexão. Trata-se do "dispositivo de aliança". Esse dispositivo é encontrado em todas as sociedades e define-se em função de casamentos, relação de parentesco, transmissão de bens entre gerações, "lugares" nos quais são definidos o lícito e o ilícito em torno da atividade sexual. Nas sociedades ocidentais, o dispositivo da sexualidade encontrou na família o seu grande
locus, sua instituição por excelência. O discurso contemporâneo que problematiza a sexualidade surge no momento em que a burguesia descobre seu corpo "nu", e o considera coisa importante, frágil, sobre o qual é necessário produzir um conhecimento. Essa constatação a que chega Foucault (1984), explica a emergência do dispositivo da sexualidade como um acontecimento que vem "depois" da constituição do corpo burguês, corpo dotado de sexualidade, e de individualidade. Corpo que padece de um desejo e de uma privação. Não se trata de um dispositivo que procura antecipadamente limitar o prazer, mas, sim um dispositivo que estabelece um controle através de uma vigilância contínua. Daí a importância da família, que enquanto instituição que reproduz o dispositivo da sexualidade, constitui um espaço de expressão do sexo lícito. A família que é também instituição de controle da sexualidade de seus membros.

6
Vigiar e punir, bem como História da sexualidade 1 - a vontade de saber, apresentam um novo eixo a que o próprio Foucault chamou de dispositivo. Nas suas próprias palavras:"(...)através deste termo tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos.Sendo assim, tal discurso pode aparecer como programa de uma instituição ou, ao contrário, como elemento que permite justificar e mascarar uma prática que permanece muda; pode ainda funcionar como reinterpretação desta prática, dando-lhe acesso a um novo campo de racionalidade. Em suma, entre estes elementos, discursivos ou não, existe um tipo de jogo, ou seja, mudanças de posição, modificações de funções, que também podem ser muito diferentes. Em terceiro lugar, entendo dispositivo como um tipo de formação que, em um determinado momento histórico, teve como função principal responder a uma urgência. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante. Este foi o caso, por exemplo, da absorção de uma massa de população flutuante que uma economia de tipo essencialmente mercantilista achava incômoda: existe aí um imperativo estratégico funcionando como matriz de um dispositivo, que pouco a pouco, tornou-se o dispositivo de controle-dominação da loucura, da doença mental, da neurose.(...)" (Foucault,1979,p.244)                                                 11

Ao propor uma analise do poder, Foucault (1979) considera que a partir da era moderna, o poder não pode mais ser tomado como um fenômeno de dominação forte e hegemônico de um indivíduo sobre os outros ou de um grupo sobre os outros, tal como se pode constatar no modelo da Soberania. O poder problematizado como "bio-poder" seria algo que circula, que funciona em rede, fazendo com que o indivíduo não seja o outro do poder, mas um dos seus primeiros efeitos.

Ao contrário de Foucault (1984), Judith Butler (2005 e 1999) pondera que as regulações de gênero não são apenas mais um exemplo das formas de regulamentação de um poder mais extenso, mas constituem uma modalidade de regulação específica que tem efeitos característicos sobre a subjetividade, com o que concordamos. As regras que governam a identidade inteligível são parcialmente estruturadas a partir de uma matriz que estabelece a um só tempo uma divisão, uma hierarquia entre masculino e feminino e uma heterossexualidade forçada. Nestes termos, o gênero não é nem a expressão de uma essência interna, nem mesmo um simples elemento de uma construção social. Com base nestas definições, a autora afirma que o gênero é uma norma.7

Levar-se em conta a historicidade do sexual não é apenas uma questão ética e política, mas, sobretudo, uma questão teórica da maior importância. Se existe um território sexual "fora" ou "excluído" do simbólico, em relação ao qual o próprio simbólico se constitui, é essencial reconhecermos como as reservas históricas e políticas podem promover neste mesmo território deslocamentos subjetivos, ampliando as possibilidades existenciais, a diversidade sexual e identitária.

Butler (2005 e 1999) afirma que "o gênero não expressa uma essência interior de quem somos, mas é constituído por um ritualizado jogo de práticas que produzem o efeito de uma essência interior". Para ela, "o gênero é vivido como uma interpretação ou um jogo de interpretações do corpo, que não é restrita a dois, e isso, finalmente, é uma mutável e histórica instituição social".

Gayle Rubin (2003) mostra ao desenvolver a idéia de sistema de sexo e gênero, como essa relação entre reprodução e gênero transcorre certos marcos analíticos e como ela se atrela num

7
Sujeitado ao gênero, mas subjetivado pelo gênero, o "eu" nem precede, nem segue o processo dessa "criação de um gênero", mas apenas emerge no âmbito e como a matriz das relações de gênero propriamente ditas De acordo com Butler, "o gênero é o mecanismo pelo qual as noções de masculino e feminino são produzidas e naturalizadas, mas ele poderia ser muito bem o dispositivo pelo qual estes termos são desconstruídos e desnaturalizados Segundo Butler, para que a norma heterossexual permaneça intacta como uma forma social distinta, ela exige a produção da homossexualidade como desvio, tornando-a culturalmente ininteligível. In Subversões do desejo: sobre gênero e subjetividade em Judith Butler Subversions of desire: on gender and subjectivity in Judith Butler / Tradução de Márcia Arán; Carlos Augusto Peixoto Júnior.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                12

pressuposto que tende a aparecer de maneira mais velada: o pressuposto da naturalidade da heterossexualidade. A autora mostra esse procedimento a partir da leitura de diversos autores, entre eles, Lévi-Strauss. A idéia deste autor é a de que as famílias geram casamentos como o dispositivo legal mais importante que têm para estabelecer alianças entre elas. Mas é necessário garantir que o casamento seja uma necessidade fundamental. Isso seria garantido através de um dispositivo que institui um estado recíproco de dependência entre os sexos: a divisão sexual do trabalho.

Assim como o princípio da divisão sexual do trabalho estabelece uma dependência mútua entre os dois sexos, obrigando-os a formar uma família, a proibição do incesto estabelece uma mútua dependência entre famílias, obrigando-as, para se perpetuarem, à criação de novas famílias.

Em termos gerais, a organização social da atividade sexual humana estaria duplamente amarrada, em algo que podemos considerar gênero e na heterossexualidade compulsória. Rubin (2003) afirma que, nas formulações de Lévi-Strauss, o parentesco instaura a diferença, a oposição, acentuando, no plano da cultura, as diferenças biológicas entre os sexos. Os sistemas de parentesco envolveriam a criação social de dois gêneros dicotômicos, a partir do sexo biológico, uma particular divisão sexual do trabalho, provocando a interdependência entre homens e mulheres, e a regulação social da sexualidade, prescrevendo ou reprimindo arranjos divergentes dos heterossexuais. A autora destaca o fato de que na teoria levistraussiana há uma relação na criação de gênero e heterossexualidade.8

8
Essa relação não pode ser desvinculada da reprodução, biológica e social. Os indivíduos seriam marcados por gênero para garantir o matrimônio. Mas, segundo Rubin, gênero, no trabalho de Lévi-Strauss, não significaria apenas a identificação com um sexo, determinaria também que o desejo sexual fosse orientado ao outro sexo. A divisão sexual do trabalho criaria homens e mulheres e os criaria heterossexuais. Assim, a supressão do componente homossexual da sexualidade humana e, segundo Rubin, a opressão dos homossexuais, são produtos do mesmo sistema cujas regras e relações oprimem as mulheres.

Rubin afirma a necessidade da separação analítica entre gênero e sexualidade, pensando o sexo como um vetor de opressão que atravessa outros modos de desigualdade social, tais como classe, raça, etnicidade ou gênero. Ela afirma que a "estratificação sexual", presente nas sociedades modernas ocidentais, perpassa inclusive ideologias consideradas progressistas, tais como o feminismo. Nessa estratificação os estilos de sexualidade bons (normais, naturais, saudáveis, adequados), tais como modalidades heterossexuais, no marco do casamento, monogâmicos, reprodutivos, se oporiam aos "maus", expressos nas práticas sexuais de travestis, transexuais, fetichistas, sadomasoquistas, sexo comercial, por dinheiro, entre gerações, contando com áreas intermediárias
. E, para além de estabelecer diferenças entre sexualidade e gênero, Rubin afirma a relevância das sexualidades não reprodutivas no domínio da sexualidade. Nesses pontos ela será seguida pelas discussões de gays e lésbicas. Afirmar que essas discussões sigam essa linha não implica que, necessariamente, a distinção entre gênero e sexualidade se restrinja a essa produção. Mas, nas análises de sexualidades heterossexuais, gênero aparece freqüentemente aprisionado numa distinção binária na qual a sexualidade é atravessada por uma linha divisória entre homens e mulheres que parece estabelecer uma continuidade entre "sexo" e gênero. Ao contrário, a relação entre gênero e sexualidade adquire maior complexidade na análise de sexualidades homoeróticas.In cadernos pagu (21) 2003: pp.157-209.Tráfico sexual – entrevista*Gayle Rubin com Judith Butler.                                                                                                                                                                                              13

Achamos oportuno neste momento da pesquisa encerramos esta breve apreciação teórica da sexualidade e de seus "dispositivos" com uma citação de Gayle Rubin que nos remete aos temas abordados no próximo capítulo, já que no mesmo serão tratadas questões como, por exemplo, como a sexualidade era exercida em períodos históricos específicos, como eram encaradas as "atividades" sexuais em determinados períodos e como a mesma era negociada no âmbito social e político de determinados contextos históricos:
"O âmbito da sexualidade, tem sua própria política interna, injustiça e modos de opressão. Como ocorrem com outros aspectos do comportamento humano, as formas institucionais concretas da sexualidade humana, num espaço e tempo determinados, são produtos da atividade humana. Elas estão repletas de conflitos de interesse e manobras políticas, tanto de natureza proposital quanto circunstancial. Neste sentido, o sexo é sempre politizado. Existem, no entanto períodos históricos nos quais a sexualidade é mais contestada e abertamente politizada. Nesses períodos, o domínio da vida erótica é efetivamente renegociado".9
9
RUBIN, In cadernos pagu (21) 2003: pp.157-209. Tráfico sexual – entrevista*Gayle Rubin com Judith Butler.)                                                                             14

CAPÍTULO II - UM BREVE HISTÓRICO E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A SEXUALIDAD
"O preconceito é o filho da ignorância".
William Hazlitt

Buscamos nesta pesquisa descobrir quais são, e em que consistem as identidades sexuais no século XXI, também examinar os caminhos da chamada diversidade sexual, pesquisar as relações sociais, destacando o papel da escola e as ações dos educadores diante este fenômeno social, observando enquanto elemento fundamental de nossa análise o auto-entendimento e a autodescrição de jovens e adolescentes buscando na classe social o elemento diferenciador para a formação das identidades, dos conflitos identitários visando romper com o paradigma dicotômico das conhecidas heterossexualidade e homossexualidade. Notamos o surgimento de novas "identidades" sexuais, de novas definições das praticas sexuais pelos indivíduos, de novas designações de si mesmo, de novas auto-identificações.

A homossexualidade e a heterossexualidade são diferentes orientações sexuais que coexistem lado a lado desde os primórdios da humanidade mesmo que não sob estas respectivas nomenclaturas. O médico austro-húngaro Károly Benkert criou o termo homossexual somente em 1869 e, até então as práticas sexuais realizadas entre indivíduos do mesmo sexo eram denominadas de sodomia e seus praticantes de sodomitas, ou mesmo de pervertidos. O termo passou então a ser usado amplamente, passando o homossexualismo e/ou a homossexualidade a ser tratado como categoria científica, uma "anomalia", a ser estudada pela ciência. Em 1871, o parágrafo 17510 foi introduzido na legislação penal alemã para punir o comportamento homossexual entre homens e a pena poderia chegar até dez anos de prisão e "reeducação".

10
Uma história das leis contra a homossexualidade merece um estudo à parte. Leis contra a "sodomia" existem há séculos, mas após 1870 elas passam a se referir explicitamente a "atos indecentes entre homens" como no Labouchere Amendment de 1885 do Reino Unido, a mesma lei que foi usada para a condenação de Oscar Wilde dez anos depois. A entrada dos temos psiquiátricos homossexual e homossexualismo nos códigos penais demorou algum tempo. O parágrafo 175 foi introduzido na legislação penal alemã para punir o comportamento homossexual entre homens, era prevista pena de até dez anos de prisão e reeducação para os gays. Em 1871 o código penal alemão condenou a homossexualidade e outras formas de sexualidade consideradas "bestiais" em seu parágrafo 175.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              15

É muito confusa a questão da condenação histórica da homossexualidade e/ou das práticas sexuais não reprodutivas entre indivíduos do mesmo sexo, e conseqüentemente afirmar-se o motivo e em que momento específico a homossexualidade deixou de ser algo natural e, passou a ser um problema, um pecado, uma patologia, uma perversão, é algo bastante complicado, por isso mesmo aqui não procuraremos nos aprofundar nesta questão. Talvez, a opressão ao homossexual e as manifestações sexuais que fogem do padrão de normalidade em geral possam, em grande parte, ser ilustradas no mesmo argumento em que se originou a discriminação e a opressão contra as mulheres. A introdução da propriedade privada e a transformação das antigas sociedades matriarcais em patriarcais, como foi analisado por Engels (2002), trouxeram profundas alterações nas relações sociais e sexuais. A necessidade de se definir quem era o herdeiro das propriedades acumuladas prendeu e submeteu as mulheres ao domínio masculino e deu início à calamitosa discriminação em relação a toda atividade sexual que não tivesse na reprodução "controlada" seu objetivo

2.1. A sexualidade no mundo industrial burguês

Atualmente, observamos que as sociedades, muito embora lentamente, e com exceção de alguns seguimentos, principalmente das classes mais desfavorecidas, estão caminhando em direção a aceitação da diversidade sexual, ou melhor, da sua compreensão. Somente no século XX começamos a perceber que não somente existem as orientações sexuais que até então conhecíamos, hetero e homossexualidade, mas também o conhecimento da bissexualidade11, da transsexualidade12, e mais recentemente da panssexualidade13 e da pomossexualidade14.

11
A bissexualidade consiste na atração física, emocional e espiritual por pessoas tanto do mesmo sexo como do oposto, com níveis variáveis de interesse por cada um, e à identidade correspondente a esta orientação sexual. Bissexual é portanto o termo aplicado a pessoas, que se sentem atraídos por ambos os sexos. Nota-se hoje ,uma grane tendência a bissexualidade principalmente entre jovens e adolescentes, ao menos em nosso âmbito de pesquisa podemos notar essa tendência claramente.

12
Uma pessoa transexual é aquela que possui uma identidade de gênero oposta ao sexo designado.Homens e mulheres transexuais fazem ou pretendem fazer uma transição do seu sexo de nascimento para o sexo oposto com alguma ajuda médica (terapia de redesignação de gênero) para seu corpo.
13
Pansexualidade é uma orientação sexual, distinta da bissexualidade e caracterizada por atração estética potencial, amor romântico e desejo sexual por qualquer um, incluindo aquelas pessoas que não se encaixam na binária de gênero macho/fêmea implicado pela atração bissexual. Algumas vezes é descrito como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero. Alguns pansexuais chegam a afirmar que gênero e sexo não têm importância para eles.

Algumas pessoas trans e intersexuais se descrevem como "pansexuais", tendo uma percepção íntima que existem muitos níveis entre o masculino e o feminino.

14
A palavra pomossexual vem da junção da palavra pós-moderno com o sufixo sexual. Foi criada, pela autora Carol Queen no livro "PoMoSexuals: Challenging Assumptions About Gender and Sexuality", como pessoas que evitam ou ignoram rótulos como hétero ou homo, porque definem o individuo pela sua preferência sexual.No livro, Carol Queen descreve o Pomossexual (Pomo) como realidade erótica, além das amarras do gênero, do separatismo, e das noções de orientação sexual.Como no pós-modernismo, o pomo resiste a uma referência estática e força uma ruptura com o sistema no qual vivemos, porque não se sente à                                                                                                                                            16
vontade dentro de um gênero ou modelo pré-determinado.No mundo ideal pomossexual, as preferências sexuais não teriam mais a menor importância. Os indivíduos estariam acima dessas distinções e por conseqüência, existiria um processo (às avessas) de inclusão sexual, já que ninguém seria mais rotulado. Acabariam-se as fobias contra transgêneros, homossexuais e travestis, por exemplo. É a liberdade total, a celebração da diversidade pela ausência de denominações.A pós-modernidade nos faz pensar na mutabilidade de tudo que considerávamos estável, e de certa forma, seguro.

Jurandir Freire Costa (2002) demonstra que, ao utilizarmos o termo
homossexualismo, nos vemos implicados no constructo histórico-ideológico-político-econômico-libidinal burguês do século XIX, o qual caracteriza a humanidade como dividida em hetero e homossexuais, correspondente à normal/patológico, que transforma as vivências da experiência sexual desses sujeitos em desvio de personalidade que remete à construção histórica a figura imaginária do homossexual como uma modalidade do humano (ou desumano) com perfil psicológico único. Falar de homossexualidade é falar de uma personagem imaginária que teve historicamente a função de ser a antinorma do ideal de masculinidade burguês.

Apesar de aqui utilizarmos indiscriminadamente o termo homossexual e homossexualismo, achamos preferível o termo homoerótico, pelos mesmos motivos defendidos por Freire Costa15. Porém, o Homoerotismo não é uma palavra neutra do ponto de vista dos valores. Com ela o autor pretende revalorizar, dar outro peso moral às experiências afetivo-sexuais 16. "Homoerotismo" é um termo que indica que existe, no repertório da sexualidade humana, a possibilidade de pessoas do mesmo sexo se sentirem atraídas sem que isso implique doença, anormalidade ou perversão segundo o autor. Para ele o homossexualismo é uma palavra que grifa a imagem da relação sexual "normal" versus "anormal", criada no século XIX com o interesse de afirmar um modo de vida burguês centrado na idéia de família17. Além disso, a sacralização desse comportamento pressupunha o desempenho sexual heteroerótico, e pretendia afirmar dois valores: primeiro, a superioridade das classes burguesas sobre as classes populares, associando a estas últimas as formas de sexualidade tidas como "inferiores" ou "promíscuas", em relação à sexualidade enquadrada na formação familiar, casamento e filhos. Em segundo lugar, essa valorização procurava diferenciar o europeu branco colonizador das práticas dos colonizados, considerados racial e culturalmente inferiores18.

15
Jurandir Freire Costa aponta que a tarefa da linguagem não é a de representar como defende a psicanálise, mas criar laços discursivos que produzam subjetividades, o que justifica a escolha do termo homoerotismo ao se referir a indivíduos homoeroticamente inclinados, em contraposição ao corrente termo homossexualismo.

16
Jurandir Freire Costa nos chama atenção para o fato de que quando mudamos os conceitos, mudamos os problemas e com eles as interpretações que damos de certos fatos.

17
Na idéia de que o homem deveria viver exclusivamente para a esfera privada e ser pai de família, deixando a vida pública para os técnicos, os competentes. O mesmo valia para a mulher, que deveria aprender, sobretudo e principalmente, a só saber e a só querer ser mãe.
18
Todo o debate médico e higiênico sobre o homossexualismo no século XIX tinha como argumento básico a idéia de que o instinto sexual humano evolui, de tal modo que sua perfeição é encontrada no comportamento burguês e familiar, e todas as outras                                                                                                                                                                                    17

variações são consideradas desvios e ilustradas pela conduta sexual da plebe ou das "raças inferiores". Isso se encontra em qualquer manual de sexologia do século passado.

O comportamento aristocrático era tido como atrasado, o tipo de comportamento que o Iluminismo denunciou. O valor central da revolução burguesa era a razão, o ponto fundamental das teorias médicas sobre os desvios sexuais foi a teoria da degenerescência, que explicava os desvios em relação à norma, dizendo que as chamadas "perversões" são um produto do predomínio dos instintos sobre a inteligência. (Costa 1992)

Consideraram os críticos da "ordem sexual Burguesa" que a sexualidade teria sido reprimida porque ela era incompatível com as necessidades do mundo capitalista que adestra todo o corpo para a produção. Neste sentido, uma perspectiva que toma como elemento de análise a história dos modos de produção, veria a repressão sexual como um elemento a mais da forma geral de dominação na sociedade, como elemento a mais na técnica de sujeição dos corpos para o não-prazer, na busca de sua capacitação como força viva para o trabalho.

Uma razão bem orientada só poderia chegar à conclusão de que a única modalidade de realização afetivo/sexual aceitável é aquela que se realiza na família burguesa, tal como nós a conhecemos. Onde a razão não reconhece isto, ela está degenerada. Freud discutiu seriamente estas concepções e seu grande opositor foi a teoria da degenerescência, desvendou a perversão da razão burguesa e este fato nos lembra duas coisas: que o desejo humano, como já escreveu Freud, é ocasional, contingente e que uma sociedade é ou não capaz de aceitar e tolerar essas condutas minoritárias em função do grau de democracia que ela apresenta.

2.2. As discussões sobre os aspectos teóricos da sexualidade e das identidades sexuais na atualidade.

Fry e MacRae (1983, p. 98), assinalam que "(...) não há nenhuma verdade absoluta sobre o que é homossexualidade (...)". Acreditamos que estes acertam em cheio nesta afirmativa. Em nossa concepção, as identidades homossexuais, ainda estão em formação e assim como qualquer identidade, são mutáveis, passíveis de mudança constante, e são frutos de visões estigmatizadas que servem, de um lado, como instrumentos preventivos e, portanto, repressivos e de outro, ao diálogo entre os semelhantes.

Para Fry, as identidades sexuais-afetivas são construídas em torno de quatro elementos:                                                     18

a) O sexo fisiológico;

b) Os papéis de gênero (associados ao sexo fisiológico);

c) O comportamento sexual (referente ao ato sexual propriamente dito. Utilizará a dicotomia ativo/passivo);

d) Chama atenção para a "orientação sexual", que pode segundo ele ser hetero-, homo-, ou bissexual. Estes termos no autor são utilizados de forma "neutra" para designar o objeto de desejo da pessoa, como os termos heterossexual e homossexual da medicina, por exemplo.

A partir desses quatro elementos, Fry tentou analisar dois esquemas de classificação e representação da sexualidade masculina: o sistema hierárquico19 e o sistema simétrico. De acordo com o esquema por ele elaborado, podemos dividir os homens, ou machos (sexo fisiológico) em duas categorias: "homens" e "bichas".

Chama-se esse sistema de hierárquico porque a relação sexual se dá entre não iguais: o "homem" penetra e domina a "bicha", que é passiva, dominada20 . O ser que penetra é o masculino, dominante, enquanto que o ser penetrado é efeminado, dominado, inferior. O "homem" pode ter relações com outros machos "bichas" sem perder seu status de "homem". O que diferencia ambos é o papel masculino ou feminino, ativo ou passivo21. O sistema simétrico, ou igualitário, segundo Fry, surge nas camadas médias urbanas em grandes metrópoles22. O personagem que simboliza esse sistema é o "entendido", análogo ao "gay" norte-americano. O "entendido" mantém relações homoeróticas com outros "entendidos", daí o nome desse sistema de classificação como igualitário ou simétrico. Não há mais hierarquia nas relações entre homens, e diversas novas figuras surgem no cenário sexual.

O único fator de diferenciação agora é a "orientação sexual", ou o parceiro desejado. Um homem define a sua sexualidade a partir do parceiro da relação sexual, e isto se torna uma condição, uma essência.

O modelo hierárquico proposto por Fry seria "tradicional", "primitivo", enquanto o simétrico seria "moderno"? De acordo com nossas entrevistas e com nosso trabalho de campo observamos que a tendência hoje nas classes médias é o desaparecimento da necessária

19
. O sistema hierárquico para Fry seria bastante generalizado no Brasil, principalmente entre as camadas mais baixas e nas regiões Norte-Nordeste do país.
20
Nota-se ai a perpetuação da visão de inferioridade do "passivo" desde a antiguidade clássica.

21
Fry relaciona este sistema hierárquico com setores "tradicionais" do Brasil, onde a hierarquia é um fator importante de organização social e onde o papel predominante cabe ao "homem".

22
Como Rio de Janeiro e São Paulo. De fato, a consolidação desse sistema classificatório coincide e se cristaliza no processo de consolidação dessas classes como tal, enquanto elas buscam um papel predominante na sociedade.                               19

feminilidade, inferioridade do homossexual passivo e que o chamado por Fry de modelo simétrico já é uma realidade vigente.

Também observamos que este esquema classificatório utilizado por Fry também pode ser utilizado para o direcionamento da análise de relações entre mulheres homossexuais e/ou lésbicas, pois também observamos uma divisão entre a lésbica "feminina", passiva e a lésbica ativa, geralmente de comportamento mais másculo, decidido, menos feminino. Não que isto seja uma regra, obviamente não é.

Dito isto, é importante ressaltarmos os conceitos de identidade e auto-identificações contemporâneos. O conceito de identidade social está relacionado às posições que o sujeito assume na complexa rede de significações culturais, ao sentimento de pertencimento a um determinado grupo social de referência (Louro, 1998). Os processos identitários funcionam como ordenações culturais no processo de construção da subjetividade, além de posicionarem os sujeitos concretos em suas relações com os diversos grupos sociais existentes nos contextos culturais em que estão inseridos.

Notadamente, para o senso comum, é compreensível que uma pessoa mude a sua identidade profissional, ou mesmo a sua identidade de classe social, porém, a sua identidade de gênero e a sua identidade sexual são consideradas como imutáveis, como dados apriorísticos que definem o que há de mais essencial no sujeito.23

As identidades de gênero e as identidades sexuais, comumente são consideradas como entidades estáticas, são consideradas como o que define a natureza efetiva de um indivíduo.Nas últimas décadas do século XX, inúmeras mudanças alteraram esse cenário de tranqüilidade e simplicidade na compreensão da relação entre indivíduo, sexualidade e gênero, como podemos citar as novas tecnologias reprodutivas, o movimento feminista, os movimentos de gays e lésbicas, ou melhor, dizendo GLBTTs, novas estruturas familiares, entre outros.

É interessante notar que as pessoas, guiadas pelo senso comum, acreditam existir uma divisão muito clara e básica entre as identidades sexuais, haveria os "normais" e os "anormais", as identidades sexuais seriam o núcleo das mais profundas verdades sobre o indivíduo não aqui tendo esta afirmativa o mesmo significado que em Foucault. Através da explicitação da identidade sexual individual seria possível prever, um dos grandes ideais da ciência moderna, as

23
"Quando uma figura de destaque assume, publicamente, sua condição de gay ou de lésbica (...) é freqüentemente vista como protagonizando uma fraude; como se esse sujeito tivesse induzido os demais a um erro, a um engano. A admissão de uma nova identidade sexual ou de uma nova identidade de gênero é considerada uma alteração essencial, uma alteração que atinge a "essência" do sujeito". (Louro, 1999, p. 12-13)                                                                                                   20

suas qualidades morais. Portanto não é de se estranhar a crença ainda difundida por intermédio de alguns segmentos religiosos de que uma pessoa homossexual é imoral, promíscua e destinada à infelicidade24.

A delimitação das identidades sexuais faz parte, portanto, de um amplo processo histórico e cultural de normatização da sexualidade, ou seja, de institucionalização da heterossexualidade como a única forma "normal" de identidade sexual. Nesse processo, a definição do que constitui a anormalidade é essencial para se definir o que vem a ser a normalidade. Os dois esforços classificatórios estão, portanto, intrinsecamente relacionados (Louro 1998). O processo de normatização da identidade heterossexual pressupõe um processo constante de estigmatização das identidades sexuais não-hegemônicas.

Nas análises sobre a construção das identidades sexuais é importante considerarmos as questões de gênero, pois não estamos nos referindo a indivíduos abstratos, mas a homens e mulheres inseridos em contextos específicos perpassados por significados culturais que demarcam as fronteiras simbólicas do que é socialmente esperado em relação às masculinidades e às feminilidades. Significados culturais que se articulam a sistemas de significação mais amplos que, por sua vez, trazem as marcas das estruturas desiguais de poder presentes nas relações entre homens e mulheres.

A suposta "tranqüilidade" com que as pessoas são classificadas em homossexuais, bissexuais e heterossexuais esconde toda uma diversidade de práticas, sentimentos e autodefinições que tal classificação parece obscurecer (Costa, 1992). A diversidade é evidente hoje em todos os âmbitos da vida social, tanto que se faz necessária a realização de uma análise sobre as "novas identidades" tanto sociais, sexuais, de gênero entre outras25 que vêm surgindo.

24
Sobre essa relação implícita entre infelicidade e homossexualidade, Foucault afirma que: As pessoas dizem: "o prazer passa, a juventude acaba. Que eles tenham prazer, afinal sabemos que isso não os levará muito longe. Pagarão bem caro por esse prazer, com sofrimento e dor, com solidão, com rupturas, com disputas, com ódio ou com ciúme", em suma, sabe-se que o prazer é compensado, e por conseguinte ele não incomoda. Mas a felicidade... A felicidade não é resgatada por nenhuma infelicidade fundamental... Então, as coisas se tornam intoleráveis. (Foucault citado por Eribon, 1994/1996, p. 168).
25
Mas no curso desse fluxo, as identidades assumem padrões específicos, como num caleidoscópio, diante de conjuntos particulares de circunstâncias pessoais, sociais e históricas. Enquanto as identidades pessoais sempre se articulam com a experiência coletiva de um grupo, a especificidade da experiência de vida de uma pessoa esboçada nos detalhes diários de relações sociais vividas produz trajetórias que não simplesmente espelham a experiência do grupo, de maneira parecida, identidades coletivas não são redutíveis à soma das experiências individuais, Identidade coletiva é o processo de significação pelo qual experiências comuns em torno de eixos específicos de diferenciação – classe, casta ou religião – são investidas de significados particulares. Nesse sentido, uma dada identidade coletiva parcialmente apaga traços de outras identidades, mas também carrega outros traços delas. Isso quer dizer que uma consciência ampliada de uma construção de identidade num dado momento sempre requer uma supressão parcial da memória ou senso subjetivo da heterogeneidade interna de um grupo.                                                                                                                                                                21

2.3 – Contemporaneidade, pós-modernidade.

As sociedades contemporâneas trouxeram consigo um verdadeiro caldeirão de raças, crenças, religiões, culturas diversas e orientações sexuais, marcadas hegemonicamente pela necessidade de afirmação de alguma identidade26 que individualize o sujeito. Mas ao mesmo tempo, o torne semelhante aos seus, o que ocorre na verdade é a formação de um verdadeiro caleidoscópio. Talvez este "caldeirão" já existisse, e até então não estivesse em evidência, poderia estar mascarado ou mesmo não era disseminado, ou não haviam tantas mutações identitárias, o que causa em parte um certo conflito identitário27. Também podemos pensar que talvez por intermédio da globalização cultural tenhamos esta impressão, pois os comportamentos, concepções, visões, modos de ser e de viver estão em evidência e são disseminados com uma maior facilidade devido a globalização, ao advento da internet, etc. Quando o sujeito tem consciência de si, do seu corpo e de sua identidade sexual e se aceita como é de fato, e principalmente sente-se "aceito" e como parte integrante de algum grupo, certamente o encontraremos menos infeliz, menos neurótico e satisfeito com ele mesmo. Segundo Louro (1997), "as identidades estão sempre se construindo, elas são instáveis, e, portanto, passíveis de transformação".

Em nossa visão o conceito de pós-modernidade é um conceito em construção, que possui características e significados diversificados de acordo com o contexto no qual esteja inserido; segundo Jean-François Lyotard                                                                            28
o Pós-Moderno seria "o estado da cultura, depois de transformações súbitas nas regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes, a partir do século

26
Para Costa (1989), "em termos puramente descritivos, a identidade é tudo que se vivencia (sente, enuncia) como sendo eu, por ocasião àquilo que se percebe ou anuncia como não-eu (aquilo que é meu; aquilo que é outro)".O autor afirma que "a identidade não é uma experiência uniforme, pois é formulada por sistemas de representações diversos. Cada um destes sistemas corresponde ao modo como o sujeito se atrela ao universo sócio-cultural. Existe assim, uma identidade social, étnica, religiosa, de classe; profissional, sexual etc." E destaca: "estas diversas representações do sujeito possuem regras de formação e manutenção, baseadas em normas que o orientam no cumprimento e julgamento do seu desempenho identificatório" (1989 p. 22). Para Freire Costa, o conflito identitário dar-se-ia apenas quando "o processo ou desempenho identificatório forem interrompidos por contradições internas a um sistema ou por incompatibilidade entre sistemas diversos, nascendo o conflito subjetivo. O sujeito não consegue realizar as exigências da norma identificatória e pode vir a sofrer psicologicamente, julgando seu desempenho como fora do normal, abaixo do normal ou anormal. O conflito identitário possui, assim, a importante propriedade de ser vivido e interpretado como desvio da normalidade" (Costa ibid).

27
Aqui conflito identitário relacionado ao que concerne as formas de manifestação da sexualidade e das subjetividades dos indivíduos.
28
Em 1979, Jean-François Lyotard publica La Condition Postmoderne, no qual apresenta o problema da legitimação do conhecimento na cultura contemporânea. Para Lyotard, "o pós-moderno, enquanto condição da cultura nesta era "pós-industrial", caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso filosófico metafísico, com suas pretensões atemporais e universalizantes"2.                                                                                                                                              22

XIX. O 'pós-moderno' é a incredulidade em relação às metanarrativas". Ainda segundo o autor "não podemos mais recorrer à grandes narrativas - não podemos nos apoiar na dialética do espírito, nem mesmo na emancipação da humanidade para validar o discurso científico pós-moderno". (Lyotard, 1998) Cabe aqui a sua citação: "A pós modernidade é a rejeição de um padrão de verdade universal"
                                                                                                                                             29
A Pomossexualidade  é um neologismo criado para classificar a orientação sexual de quem rejeita qualquer classificação, uma característica peculiar do individuo pós-moderno, o termo surgiu justamente da junção do prefixo
pomo-(de pós-moderno) e sexualidade, e, apesar de aparentemente contraditório, é usado para referenciar quem protesta, rejeitando demais classificações, e não quem simplesmente não se importa com elas. A panssexualidade é outra classificação e/ou orientação sexual muito característica desta virada de século, temos alguns representantes Ilustres desta classificação ou orientação, a cantora Madonna e o cantor de rock Serguei (Sérgio Augusto Bustamante).

Para Giddens (2002, p.9) é impossível dissociar a constituição das sociedades modernas, em sua complexidade atual, sem levar-se em conta as conseqüências dramáticas que a globalização ou os riscos sociais imprimem tanto ao indivíduo quanto à coletividade, contribuindo de forma decisiva para afetar "os aspectos mais pessoais de nossa existência". Sua reflexão não está centrada no "eu" fruto de uma abordagem notavelmente psicológica, mas, na importância do entendimento dos mecanismos de "auto-identidade" que são constituídos pelas instituições da modernidade, influindo também em sua constituição. Por não ser uma entidade passiva, determinada por influências externas; ao forjar suas auto - identidades, independente de quão locais os contextos específicos da ação, os indivíduos contribuem para as influências sociais que são globais em suas conseqüências e implicações. O "eu" é analisado tanto em sua dimensão ontológica quanto em sua trajetória na modernidade.

O autor examina a modernidade frente às dinâmicas do risco e da segurança e as conseqüências de todas essas mudanças para o "eu". As tribulações do "eu" são, enfim, encaradas a partir de um outro lugar, onde a cultura do narcisismo e o conceito de um "eu mínimo" perdem espaço, afirmando-se que o global e a modernidade, enquanto entidade estabelecida, seus riscos e sua complexidade, impõem aos indivíduos perturbações e ansiedades generalizadas, exigindo a criação de novas formas de identidades para se lidar com essas perspectivas, talvez por isso a

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Podemos entender ai, que a pomossexualidade tem uma relação intrínseca com a pós-modernidade partindo da afirmativa de Lyotard                                                                                                                                                                                                                                                                                       23

partir do inicio do século XXI venham à tona diversas "novas" identidades sexuais, ou orientações sexuais como a pomossexualidade30, a panssexualidade31, novas tribos urbanas como, por exemplo, os Emos32 dentre outras.

A tensão sofrida pelo "eu" e sua busca por novas identidades, por características individualizantes, na alta modernidade encontram espaço e referência no surgimento do que Giddens chama de política-vida, que pode ser entendida como uma política das decisões da vida e, nesse sentido, pode-se explorar a idéia de que o "pessoal é político" e, conseqüentemente, admitir como Giddens (2002) que "as questões da política-vida bradam por uma remoralização da vida social e exigem uma sensibilidade renovada para as questões que as instituições da modernidade sistematicamente dissolvem. O autor auxilia-nos a refletir sobre a sociedade contemporânea de forma intensa, abrindo espaço para considerar o "eu" e a busca de "novas identidades" como pontos fundamentais.

Giddens (2002) usa a expressão "mundo em descontrole" para justificar as aceleradas mudanças que se processam no mundo atual. Mudanças que afetam não apenas um grupo de pessoas, mas têm suas dimensões enormemente alargadas pelo alcance fantástico das novas tecnologias em um mundo interligado.

Tanto em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças características dos períodos anteriores. No
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A palavra pomossexual vem da junção da palavra pós-moderno com o sufixo sexual. Foi criada, pela autora Carol Queen no livro "PoMoSexuals: Challenging Assumptions About Gender and Sexuality", como pessoas que evitam ou ignoram rótulos como hétero ou homo, porque definem o individuo pela sua preferência sexual.No livro, Carol Queen descreve o Pomossexual (Pomo) como realidade erótica, além das amarras do gênero, do separatismo, e das noções de orientação sexual.Como no pós-modernismo, o pomo resiste a uma referência estática e força uma ruptura com o sistema no qual vivemos, porque não se sente à vontade dentro de um gênero ou modelo pré-determinado.No mundo ideal pomossexual, as preferências sexuais não teriam mais a menor importância. Os indivíduos estariam acima dessas distinções e por conseqüência, existiria um processo (às avessas) de inclusão sexual, já que ninguém seria mais rotulado. Acabariam-se as fobias contra transgêneros, homossexuais e travestis, por exemplo. É a liberdade total, a celebração da diversidade pela ausência de denominações.A pós-modernidade nos faz pensar na mutabilidade de tudo que considerávamos estável, e de certa forma, seguro.
                                                                                                                                              31
Pansexualidade pode ser definida como uma orientação sexual, distinta da bissexualidade e caracterizada por atração "estética potencial", amor romântico e desejo sexual por qualquer um, incluindo aquelas pessoas que não se encaixam na binária de gênero macho/fêmea implicado pela atração bissexual. Algumas vezes é descrito como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero.Alguns pansexuais chegam a afirmar que gênero e sexo não têm importância para eles.

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Os chamados Emos (abreviação do inglês emotional) nome criado para descrever a nova geração de bandas de "hardcore emocional" que apareceu no meio dos anos de 1980. A palavra "Emo" era vista como uma piada ou algo pejorativo e artificial. E na verdade constituiu-se hoje em uma tribo urbana, composta por jovens que curtem hardcore, vestem-se de forma diferente da "convencional" usam maquiagem mesmo sedo meninos, mas esta maquiagem vem a ser o que conhecemos por delineador de olhos e os famosos lápis de olho, são aparentemente muito sensíveis, usam os cabelos lisos tampando os olhos, e não possuem preconceitos quanto à orientação sexual, sendo assim mesmo os "emos" que não são homossexuais sofrem preconceito e são associados aos homossexuais, apenas porque são delicados, sensíveis, mostrando que, do ponto de vista do senso comum, há uma relação entre a sensibilidade com homossexualidade no homem e da masculinidade na mulher.                                                                                                                                                                                                                                                 24

plano da extensão, elas serviram para estabelecer formas de interface social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteram algumas das características mais íntimas e pessoais de nossa existência cotidiana (Giddens, 1993).

Giddens (1991) nos diz que a pós-modernidade é o mundo da destradicionalização e da reflexividade, e conseqüentemente, um mundo de "indivíduos mais ativos33". Para este autor as sociedades modernas, chegaram a um estado de alta ou radicalizada modernidade, na qual a característica dominante é um elevado grau de reflexividade. Isto é, as sociedades modernas chegaram a um ponto em que são forçadas a refletir sobre si mesmas e que, ao mesmo tempo, desenvolveram a capacidade de refletir retrospectivamente sobre si mesmas. Os antigos modelos de desenvolvimento das sociedades modernas criam agora problemas e dilemas tão fundamentais que questionam qualquer movimento de acordo com esses princípios. Essa sensação de que não se pode obter um conhecimento sistemático sobre a organização social, é resultado de estarmos sendo apanhados por eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem estar fora de nosso controle como, por exemplo, o surgimento das novas identidades sexuais e a proliferação das orientações sexuais que fogem dos padrões de normalidade até então estabelecidos.

As "minorias" sexuais na atualidade são muito mais visíveis e, portanto, tornam-se mais acirradas as lutas com grupos conservadores. Esse choque, que merece especial atenção de estudiosos, pesquisadores culturais e educadores, torna-se ainda mais complexo se pensarmos que o grande desafio não consiste em assumir que as posições de gênero e sexuais se multiplicaram e escaparam dos esquemas binários, mas também em aceitar que os limites estão sendo ultrapassados e que o lugar social no qual alguns indivíduos vivem é exatamente a fronteira. A probabilidade de várias descrições do indivíduo pode promover acordos intersubjetivos em nossa relação com o outro e com nós mesmos, entendendo o mais longe possível a referência do nós, e reconhecendo como um de nós um número cada vez maior de pessoas.

Neste sentido, a partir da discussão histórica e teórica acerca da sexualidade, é importante investigarmos como essa dimensão é vista no ambiente escolar formal, ou seja, de que forma as relações entre os atores envolvidos (alunos, professores, pais e equipe pedagógica) travadas na escola, especialmente no ensino médio, lidam com a problemática da diversidade sexual. A orientação sexual, exposta nos parâmetros curriculares e a análise do trabalho de campo, quais

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Indivíduos que não acreditam mais em decisões políticas impostas, rígidas, burocratizadas e que não condizem com suas necessidades. Através das micropolíticas.                                                                                                                                                                                                         25

sejam, entrevistas abertas, dados estatísticos e demais documentos adquiridos ao longo da nossa investigação são, também, componentes chaves do próximo capítulo.

CAPÍTULO III - CONVIVENDO E COMPREENDENDO A DIVERSIDADE: O PAPEL DOS EDUCADORES E DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES SEXUAIS.
"A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele".
Hanna Arendt (1981).
Num primeiro momento, pretendíamos com esta pesquisa, compreender o posicionamento anacrônico de muitos educadores, das famílias e da sociedade em geral para com a questão da sexualidade e principalmente para com a diversidade sexual, bem como analisar e compreender as disparidades existentes nas sociedades pós-modernas em relação a posicionamentos por um lado extremamente "modernos" e "adequados" à época e por outro, completamente retrógrados em relação às sexualidades. Utilizando-nos da célebre afirmação de Florestan Fernandes "o preconceito de ter preconceito", referindo-se ao costume e postura adotados aqui no Brasil, quanto à questão racial, buscamos compreender, o motivo pelo qual algumas pessoas afirmam não ter preconceito, neste caso em relação às orientações sexuais, e, no entanto em se tratando de sua própria identidade sexual e/ou sexualidade ou de seus filhos ou parentes, são tomadas por posturas retrógradas e contraditórias.

Buscamos bases para a afirmação de que a identidade homossexual tem suas características e significados nuançados segundo a posição social dos indivíduos, e por fim procuramos analisar as novas nomenclaturas que vêem surgindo para designar as orientações sexuais que fogem das dicotomias hetero e homossexuais e como o surgimento das mesmas influi e/ou ocasiona um conflito identitário no jovem do século XXI, visto que, muitas vezes esse jovem não recebe o suporte necessário em casa, e nem mesmo um direcionamento concreto na escola.                                                                           26

Todos estes objetivos propostos, estavam voltados para a confirmação de nossas três hipóteses principais. A primeira consistia em sustentar a afirmação de que uma das maiores causas da evasão escolar entre jovens e adolescentes homossexuais, femininos ou masculinos, seria o despreparo dos educadores em lidar com os conflitos ocorridos dentro de sala de aula, a segunda é a de que os pais, juntamente, com a educação religiosa opressora e baseada em princípios medievais, talvez sejam os maiores causadores do estresse emocional do jovem homossexual; e a terceira hipótese é a de que a identidade homossexual tem suas especificidades e significados entrelaçados de acordo com a posição social dos indivíduos, a auto-identificação como "bicha", "boiola" etc estaria relacionada às chamadas "classes populares" e/ou desfavorecidas, nelas que haveria a identificação entre homossexualidade e feminilidade, o que se observaria nas escolhas profissionais dos indivíduos, que não obedecem às profissões manuais, comumente masculinas, na auto-apresentação corporal e no exercício da dicotomia ativo/ passivo.

No decorrer da pesquisa, surgiu uma quarta hipótese, a de que a orientação sexual para os jovens ainda é algo bastante obscuro, existe um desconhecimento, uma desinformação no que concerne a atividade sexual, ao exercício seguro da sexualidade, saudável e prazeroso. As informações que estes jovens recebem são deturpadas, contraditórias e banais, já que não visam um esclarecimento abrangente quanto à questão, muitos jovens tem medo e/ou vergonha de procurar médicos ginecologistas e urologistas, principalmente os jovens bissexuais e homossexuais e sendo assim, a orientação sexual na escola sem um caráter de educação higienizadora, seria necessária e de extrema valia na diminuição dos casos de doenças sexualmente transmissíveis entre esses jovens e na orientação quanto às identidades sexuais visando um direcionamento que buscaria romper com os estigmas existentes e auxiliar na diminuição dos conflitos identitários e da homofobia internalizada.

A escola é o meio principal para a informação e formação do jovem e do adolescente como cidadão, como individuo consciente, e conseqüentemente é a instituição de maior importância na vida dos indivíduos, depois da família é claro. Como podemos observar em nossa pesquisa, a escola não anda cumprindo o seu dever, além da deficiência no ensino curricular obrigatório, existe uma inexistência do estabelecimento do ensino de disciplinas das áreas sociais, nas escolas de ensino fundamental e médio, também há uma dificuldade para a atualização dos profissionais docentes, e desinteresse por parte de alguns, mesmo que estes possuam os meios, ao menos nas escolas freqüentadas pelos jovens entrevistados, além disso, notamos a carência de                                                                                                                                                    27

projetos sociais nesta região pesquisada, que primem pelo esclarecimento quanto a questão da orientação sexual, no sentido puro mesmo de "orientar" e não de "educar" higienizando como podemos verificar que é o objetivo principal explicito nos PCNs.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) constituem um referencial de controle de qualidade da educação formal de todo o Ensino Fundamental e Médio do país. A partir da nova constituição prevista pela Lei Federal nº 9.394, foi estabelecida a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, percebeu-se então, a necessidade de estabelecer uma homogeneização das práticas docentes na educação nacional. Desta forma, o PCN supostamente serviria de norteador para os professores constituírem uma linearidade das propostas pedagógicas nas diferentes disciplinas da grade curricular.

Resumidamente, podemos ilustrar que cada livro pertencente aos PCNs traz maneiras de como trabalhar a sua referida disciplina de forma "ética e responsável"; apresentando os objetivos, conteúdos e métodos avaliativos favoráveis para um processo de ensino e aprendizagem eficaz. Os três últimos volumes, que são de nosso maior interesse, são constituídos pelos Temas Transversais (TT), ou seja, são as temáticas consideradas emergentes em nossa sociedade; e a escola, por sua vez, conforme os PCNs, deve permitir e facilitar situações de diálogo de tais temas. Os temas são os seguintes: trabalho/consumo, ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e orientação sexual.

Os PCNs são colocados como o lugar de discussões e reflexões, bem como o grande norteador na busca de responsabilidades e competência no processo de formação do povo brasileiro (BRASIL, 1997),e é ai que se encontra o perigo, notadamente, os PCNs estão completamente desatualizados e muitas vezes não se faz o seu devido cumprimento do memso no que concerne oas TTs, muito embora não vá fazer diferença, pois atualmente os temas propostos precisam ser revistos, e atualizados de acordo com a realidade vigente.

Desta maneira, o documento pretende servir como ferramenta para o trabalho didático-pedagógico dos temas citados, onde devem ser discutidos em todas as disciplinas e "encaixados" nos conteúdos formais, programados no ano letivo, o que na prática, ao menos nas escolas dos nossos entrevistados não ocorre.

Entende-se por orientação/educação sexual nos PCNs, um conjunto de projetos pedagógicos que têm por objetivo permitir que os adolescentes estabeleçam contato na escola, com uma série de questões organizadas em três blocos de conteúdos: corpo: matriz da                                                                                                                                                                       28

sexualidade; relações de gênero e prevenção a doenças sexualmente transmissíveis/ Aids (BRASIL: PCN, 1997) Os conteúdos são organizados a partir da expectativa de que o aprendizado da orientação/educação sexual ainda na escola de ensino fundamental possa promover a construção de condutas sexuais orientadas por um "tipo de racionalidade" que meça os custos e benefícios das relações sexuais protegidas em comparação com aquelas que são consideradas desprotegidas.

A principal diferença entre as relações sexuais consideradas seguras e aquelas que não são seguras nos PCNs demonstra o caráter da orientação sexual na escola de "educação higienizadora" e não orientadora, e encontra-se preocupação em frisar-se apenas o uso de preservativos para prevenção da gravidez e das DSTs. Mais tarde retornaremos a quarta hipótese, por hora voltaremos a confirmação das hipóteses anteriores.

No que se refere a nossa primeira hipótese, concluímos que é fato que muito do que se atribui a evasão escolar de jovens e adolescentes, e no nosso caso dos jovens e adolescentes homossexuais moradores dos bairros de Sepetiba e Santa Cruz localizados na cidade do Rio de Janeiro RJ, está realmente atrelado ao despreparo dos educadores em lidar com a diversidade.

Em algumas cidades e localidades, por parte de alguns grupos específicos, existe uma preocupação na atualização dos professores e no preparo destes para lidar com as diferenças em sala de aula, como é o caso do grupo GTPOS, que em 2006 desenvolveu os projetos: Sexualidade, Cidadania e Diversidade para o Ministério da Educação/SECAD; bem como o projeto "Jovens, Exploração Sexual e Anticoncepção de Emergência": abordando questões-chave de Saúde Sexual e Reprodutiva no Sudeste e no Nordeste do Brasil, em parceria com a Bemfam e ECOS, com financiamento da Nike. E também o projeto de capacitação de educadores para Orientação Sexual nas Prefeituras de Arujá, SP, e Barueri, SP, nesta última por intermédio da FIA (Fundação Instituto de Administração). Além disso, lançou o documentário em DVD
Gravidez na Adolescência e o livro Orientação Sexual: Educadores Relatam Experiências, desenvolvidos a partir de trabalhos realizados junto à Prefeitura Municipal de São Paulo. O que infelizmente não observamos não só nessa região (Sepetiba e Santa Cruz –RJ), mas em quase toda a cidade do Rio de janeiro, justo a região pesquisada é demasiadamente carente, excluída cultural e socialmente, o que dificulta muito a compreensão e discernimento dos jovens de sua própria sexualidade e do exercício da mesma e por isso mesmo a escola e, é claro os educadores desta região deveriam exercer seu papel incondicionalmente e buscar aprimoramento e                                                                                                              29

atualização, deixar juízos de valor em casa, dedicar-se a educação transformadora e o estado deveria primar pela atualização e capacitação dos mesmos para lidar com a diversidade.

Ouvimos relatos do tipo:
"Eu apanhava de todo mundo, um dia um garoto tirou minha calça na quadra, fui reclamar com a professora, ela disse que não podia fazer nada, nem ligou, depois falei com o diretor e ele me disse pra virar homem e deixar de ser bichinha, fui tão esculachado que desisti de ir para escola, parei de estudar, só voltei a ir agora porque é a noite e meu tio estuda na sala do lado da minha34"

Relatos sobre a postura dos educadores, diante de demonstrações explícitas de homofobia e preconceito em sala de aula nos foram apresentados pelos entrevistados, onde observamos um total descaso, preconceito e homofobia por parte dos próprios educadores e diretores de instituições de ensino da localidade. A conseqüência desta postura é drástica, um dos entrevistados, além de sofrer gravemente com o preconceito na escola, era continuamente humilhado em casa pelos seus pais, passando por conflitos indescritíveis:
"Já pensei em me matar, ainda penso às vezes, só não faço isso por causa da minha vó que é a minha mãe de verdade, aquela peste da minha mãe,não é mãe não , um dia cheguei chorando lá do Brizolão porque os garotos tinham falado que se eu não desse meu dinheiro pra eles iam me bater, e eu já sabia que não ia adiantar falar com o Lino que era o diretor, porque ele nunca fazia nada mesmo, e fiquei muito triste porque o dinheiro era pra comprar umas revistas que eu queria muito e minha vó não tinha mais dinheiro, minha mãe disse que era bem feito, porque quem mandou eu nascer assim, ela disse que preferia que eu tivesse nascido morto ou retardado do que como eu sou e que ela odeia quando falam que eu sou filho dela, porque morre de vergonha, meu pai quando enche a cara me bate e fala que tem vergonha de mim, só minha vó gosta mesmo de mim,mais ninguém"
35
34
(P.16 anos entrevistado 2, dia 04/08/2007 às 17:00 hs)
35
(T. 17 anos.entrevistado 3, dia 04/08/2007 às 15:00 hs.)                                30

Este relato demonstra que a descriminação começa em casa, e uma vez sendo perpetuada na escola, ocasiona um grande aumento nos números da evasão escolar. A escola se torna um espaço privilegiado para a manutenção dos preconceitos, já que a postura adotada por muitos educadores é completamente contraditória ao que prioriza a educação.

Assim chegamos a confirmação também de nossa segunda hipótese, não querendo aqui tomar juízo de valor, percebemos durante as observações e entrevistas que nesta localidade há um grande número de igrejas protestantes das mais variadas correntes, e que os pais destes jovens que sofreram ou sofrem discriminação em casa, são em grande parte protestantes ou católicos fervorosos, o que faz com que os seus filhos passem por sérios conflitos, não conseguindo ao menos definir a sua própria orientação sexual, como num caso especifico de um jovem, A. 16 anos (entrevistado 1, em 05/08/2007 às 21:00) que afirma ser heterossexual, mesmo mantendo relações afetivas constantes com indivíduos do mesmo sexo, por temer as conseqüências, as represálias por parte de amigos da escola, dos pais e dos professores, assumindo um comportamento agressivo e contraditório e até certo ponto se auto punindo por acreditar que existe algo de errado com ele, devido as constantes pressões por parte dos seus pais, da Igreja, da escola, comprovando nossa hipótese de que, a educação religiosa opressora dada por esses pais e baseada em princípios medievais é em parte a maior causadora do estresse emocional do jovem homossexual. Alguns mesmo sofrendo pressões constantes em casa e na escola, passando por humilhações e sofrimentos constantemente não passaram por um processo de conflito identitário, auto punição nem pela homofobia internalizada36, atingindo autonomia mais cedo e se libertando das amarras opressoras, reivindicando seus direitos e exigindo o respeito, como é o caso de J de 21 anos, que uma vez sendo vitima do preconceito em casa e na escola:
"Agüentei firme, sabia que aquela não era uma situação eterna e que eu iria conseguir ser feliz um dia, aprendi muita coisa com amigos mais velhos, li bastante, conheci meu primeiro namorado que me ajudou muito, sai de casa, hoje moro sozinho, não tenho problemas com preconceito, quando tenho não tolero, não me submeto mais, sei dos meus direitos, ainda não pude realizar
36
Homofobia internalizada e/ou interiorizada consiste na negação da própria orientação sexual para si mesmo, perante aos outros, pode manifestar-se através de tentativas de mudança de orientação sexual, sentimento de que nunca se é suficientemente bom, pensamentos obsessivos e/ou compulsivos, fracasso escolar,baixa auto estima,imagem negativa do próprio corpo,desprezo pelos membros mais assumidos (homossexuais) etc.                                                                                                                         31
meus sonhos, por falta de grana, queria muito estudar mais, parei no primeiro ano do ensino médio, aturei muito né? Mas um dia eu chego lá" 37

Em se tratando da questão da falta de esclarecimento dos pais, influenciando na criação de conflitos, homofobia internalizada, um relato em especial chamou a nossa atenção:
"Eu me senti a vida inteira oprimido, eu estudava muito, tirava notas boas, fazia de tudo pra agradar, mas nada adiantava, meu pai sempre me chamava de "bichinha", "babaquinha" dentre outras coisas, consegui me formar ter minha independência financeira e a primeira coisa que eu fiz foi procurar um lugar só meu onde eu pudesse finalmente depois de 28 anos ser eu mesmo".
38
"Sofri muito preconceito, como disse antes. Nas aulas de Educação Física, também dentro de sala de aula mesmo. Até alguns professores achavam engraçado quando os outros meninos me xingavam de "viadinho", "bichinha", "boiola" etc., riam junto com eles. Isso fazia eu me sentir excluído, fora daquele mundinho, fazia eu me sentir errado, anormal".
39

A partir de nossas observações informais durante o trabalho de campo, de nossas entrevistas e das afirmações de Fry (1982) confirmamos a nossa terceira hipótese de que a identidade homossexual tem suas especificidades e significados entrelaçados de acordo com a posição social dos indivíduos, de que a auto-identificação como "bicha", "boiola", estaria relacionada às chamadas "classes populares".
"Não tenho nada contra não, mas não gosto de ser assim e nem de namorar com pessoas assim ( se referindo aos meninos mais afeminados), curto homem, não travesti, eu sou homem não mulher, sou um homem que gosta de homem, só isso, não preciso ficar me auto afirmando como gay o tempo todo e nem tentando aparecer falando fino, dando pinta, isso é coisa de gente burra e brega".
40
37
(J de 21 anos, entrevistado 4, entrevista realizada em 26/08/2007 às 22:00Hs)
38
(T.T. 28 anos, entrevistado 5, entrevista realizada no dia 26/08/2007 às 21:00 hs)
39
(T.T. 28 anos entrevistado em 27/08/2007 às 01:10 Hs.).
40
(A.26 anos, entrevistado 6, entrevista realizada no dia 27/08/2007 às 00:30)                                                                                                                                                                                32

O posicionamento deste entrevistado apresenta alto grau de preconceito. Observamos também que existe um certo preconceito dos gays quanto aos gays que possuem um comportamento mais efeminado. É nas "classes populares", que há a identificação entre homossexualidade e feminilidade, o que podemos observar nas escolhas profissionais, principalmente em nosso âmbito de pesquisa a grande maioria dos entrevistados maiores de idade e empregados trabalhavam em "casas de família" como domésticas, eram cabeleireiros ou manicuros, que não correspondem às profissões manuais masculinas. Entre as classes favorecidas, a homossexualidade também seria identificada com o "feminino", mas seria uma qualidade menos enfatizada, pois ocorre neste segmento social um certo "cuidado" com o comportamento, isto é, o agir o mais discretamente possível, procurando-se suavizar os gestos, a valorização da discrição, acompanhada de "alguma aceitação social" e um encaminhamento para profissões artísticas e intelectuais, relacionadas ao mesmo tempo à sensibilidade e à "distinção", neste caso este "cuidado" com o comportamento não estaria direcionado pra com a questão do preconceito, para a preocupação com o mesmo, e sim para a questão da etiqueta social, status.
"Eu sai de casa muito cedo, não tinha como me sustentar, tinha uma "amiga" que fazia show na noite, ai resolvi me arriscar e colocar esse silicone de injeção sabe? Graças a Deus nada de ruim me aconteceu, comecei então a trabalhar na noite, a fazer alguns programas para poder me sustentar, eu não tinha ninguém que pudesse me ajudar, me orientar, parei de estudar na quarta série, tive que fazer isso, hoje eu penso as vezes que se derrepente meus pais não tivessem me expulsado de casa tão cedo eu não teria me travestido, não sei, não estou reclamando ou me arrependendo, pois "bicha" eu sempre fui, sempre gostei de homem mesmo, mas acho que eu não teria feito programas como travesti e nem seria travesti".41

Os homossexuais masculinos provenientes das chamadas "classes médias urbanas" procuram romper com a percepção do homossexual como feminino, com a figura do gay afeminado. Fazem isto a partir da afirmação de relações igualitárias, nas quais os papéis ativo/passivo, não existem como relação de subordinação e sim como preferência na realização

41
(O.40 anos, entrevistado 7 em 08/08/2007 às 10:00 Hs)                                                                                                                                                                       33

do ato sexual. As relações sexuais são vistas como fontes de prazer, sendo valorizadas por isto, existe a atividade sexual como conseqüência da afetividade, da atração entre dois indivíduos, do mesmo sexo ou não, buscando a satisfação sexual.

Observamos em determinadas entrevistas, que alguns dos entrevistados foram subjugados e humilhados em locais públicos, na escola, dentre outros locais e não tiveram nenhuma atitude. Talvez devido à falta de informação e da questão da própria auto-identificação como "boiola", "bichinha" e uma espécie de autopunição ou homofobia internalizada, verificamos que os mesmos entrevistados que passaram por esta situação, sofreram discriminação também em seu âmbito familiar, logo não recebendo apoio e respaldo, eram provenientes de familias carentes e não tiveram acesso a informação, sentiram-se ainda mais vulneráveis e fragilizados, tornando-se presas fáceis para a perpetuação do preconceito e da discriminação e para a ocorrência de violência, mesmo na escola que deveria ser um espaço democrático e de socialização do conhecimento e não um espaço de perpetuação de valores anacrônicos.

A partir das nuanças quanto à classe social, nível de escolaridade, de acesso à informação e de apoio e respaldo familiar, podemos perceber uma clara aliança entre saber e poder, na medida em que a produção de verdades sobre o sujeito, a partir do processo histórico de medicamentalização, higienização, do corpo e da sexualidade, serviria de apoio não apenas para separar os "normais" dos "anormais", mas também para excluir estes.

Retornando a quarta hipótese surgida no decorrer de nossa pesquisa, a de que a orientação sexual para os jovens ainda é algo bastante obscuro, podemos concluir que esta afirmativa é fato, pois em se tratando de questões como no que consiste a orientação, quais as orientações sexuais existentes, como exercer a sexualidade de forma segura, verificamos que os jovens ainda estão bastante desinformados, as informações oferecidas pela mídia são na sua maioria restritas e sem relevância, a família mesmo hoje não oferece muita informação, não todas é claro, e a escola não cumpre seu papel, alguns jovens entrevistados não sabem definir a sua própria orientação sexual, outros nunca foram a um urologista porque sentem vergonha, chegando até mesmo a auto medicar-se nos casos de ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis:
"Eu peguei uma coisa ai, sentia muita dor quando urinava, ai um amigo me disse que era gonorréia e que eu tinha que tomar benzentacil, pedi para o menino da
                                                                                                                         34
farmácia me vender, comprei tudo direitinho, me apliquei e tudo, ainda bem que eu acho que era isso mesmo, porque algum tempo depois eu estava bom".
42
"Você acredita que eu nunca fui ao urologista? Desde pequeno minha orientação sexual era visível, minha mãe mesmo tendo me aceitado, tinha vergonha de me levar enquanto eu era novo e de conversar comigo sobre essas coisas, cresci e ainda não fui."
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Dentre as trinta entrevistas realizadas, chegamos a confirmação de nossas quatro hipóteses, mas sentimos que ainda não nos é o suficiente, ao menos no que tange a compreensão dos conflitos e problemas sociais existentes quanto a sexualidade dos indivíduos do século XXI principalmente dos jovens. Ainda há muito que se discutir e pesquisar quanto aos assuntos abordados no decorrer desta pesquisa, temos a sensação que "algo ficou por dizer", também porque no que se refere às relações humanas, as relações sociais, sempre há algo o que se revelar visto que estas variam de acordo com a época, com o contexto social, com os conceitos em "voga", e no nosso caso em especial, em se tratando de pós-modernidade, do século XXI, há um aumento constante na velocidade da informação, as relações hoje são mais dinâmicas e conseqüentemente os casos de mutação identitária, de mudança e transformação de identidades etc são muito mais velozes e comuns. Hoje ocorre a compressão do entendimento e da sensação do tempo e do espaço, podemos pesquisar um determinado meio social hoje e daqui a algumas semanas ou menos voltarmos ao mesmo campo de pesquisa e notarmos mudanças significativas.

Já que aqui estamos lidando com os conflitos, identidades e contradições vigentes na pós-modernidade, principalmente a partir do século XXI, nada mais condizente do que além de nos basearmos em entrevistas realizadas durante nosso trabalho de campo, também utilizarmos os meios proporcionados pela Internet. A Internet é um canal para informações que, historicamente, não figuram nos meios de comunicação de massa e infelizmente ainda não está disponibilizada para todos os seguimentos das sociedades. Traz, ainda, uma oportunidade para que as pessoas possam compartilhar impressões e dados de qualidades diferentes sobre os grandes eventos do mundo, opiniões sobre questões políticas etc, os quais não são considerados pelo padrão de

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(L. 22 anos entrevistado 8 , em 10/08/2007 às 15:0 Hs)

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( M. 27 anos entrevistado 9. em 08/08/2007 às 10:00 Hs)                                                                                                     35

notícia dos veículos tradicionais, uma quantidade incrível de informação independente encontra-se "on line".

Sabendo disso postamos algumas enquetes em um mundialmente conhecido site de relacionamentos (www.orkut .com) mais especificamente em "comunidades" existentes neste site onde o público em sua grande maioria é contra o preconceito, são homossexuais, bissexuais, transexuais, pomosexuais. Porém, nos decepcionamos com a relativa falta de interesse dos mesmos em responder questões importantes e porque não dizer de seu interesse, preferiam responder enquetes do tipo: "Beija ou passa adiante".

Por exemplo, perguntamos: A escola na sua opinião é um espaço  privilegiado para perpetuação de preconceitos?Na comunidade "ULC – Ultra Love Cats", 70% - 28 votos de um total de 40 respondeu que sim, 30% - 12 votos, respondeu que não.Na comunidade "B.I.T.C.H.", 67% - 33 votos de um total de 49 respondeu que sim, e 32% - 16 votos, respondeu que não, nesta mesma comunidade um comentário em especial nos chamou atenção, o de Bruno:
"Infelizmente a escola brasileira ainda não cumpre o seu REAL papel: FORMAR UM CIDADÃO CRÍTICO com seus valores e respeitando todos os tipos de diversidade. Muita coisa quanto ao homossexualismo com relação a dez vinte anos atrás, muitos já aceitam esta "diferença" , MAS , não acredito INFELIZMENTE que tenha sido a escola a provedora de tal realidade , pois o preconceito ainda existe , seria UTOPIA dizer que ele um dia vai acabar , porque cada um tem seus valores e ideais , porém não é utopia dizer que : Cada um deve guardar seus preconceitos para si e saber respeitar o que há de diferente pra si , pois só assim acredito que teremos um pouco de paz".
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Esse comentário demonstra a ânsia em alcançarmos harmonia na diversidade, ao mesmo tempo a conformação com os preconceitos ("
não acredito INFELIZMENTE que tenha sido a escola a provedora de tal realidade, pois o preconceito ainda existe, seria UTOPIA dizer que ele um dia vai acabar, porque cada um tem seus valores e ideais") vistos como algo inerente ao ser humano, o que observamos pode ser até certo ponto afirmado, pois com base em nosso trabalho de campo percebemos que em se tratando dos próprios homossexuais, existe preconceito, por exemplo, alguns homossexuais não aceitam o comportamento efeminado de outros, também há

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(Bruno 20 anos. Disponível em www.orkut.com)                                                                                                                                                                                      36

os que não gostam de travestis, ou de lésbicas, negros etc), será que podemos dizer que o preconceito é inerente ao ser humano?

Na comunidade "Homofobia é crime" 75% - 18 votos de um total de 24 respondeu que a escola é sim um espaço privilegiado na perpetuação de preconceitos e 25% - 6 votos responderam que não.Na comunidade "Heteros sem preconceito" 86% - 20 votos de um total de 23 respondeu que sim e 13% - 3 votos respondeu que não.

Juntando a esses números nossas entrevistas, nossas observações informais, podemos concluir que realmente a escola poderia a partir de um trabalho de orientação educacional e sexual sério e comprometido contribuir e muito na diminuição dos problemas quanto às identidades sexuais, da homofobia internalizada, da evasão escolar e todo e qualquer tipo de preconceito e violência. Também concluímos que em sua maioria, os homossexuais do sexo masculino, são os que mais sofrem com o preconceito durante o período escolar, talvez porque as mulheres não demonstrem tanto a sua orientação sexual através de seu comportamento, também podemos relacionar a isso o fato da opressão contra as mulheres, podemos também nos alicerçar quanto a afirmativa anterior no trabalho de Márcio Caetano "Gestos do Silêncio: Para esconder a diferença"(2002) onde ele mostra que muitos homossexuais se vêem obrigados a "esconder" quem são temendo a brutalidade do preconceito, observamos isso também em nossa pesquisa, tanto entre homossexuais masculinos como femininos.

Dito isto, no que diz respeito às meninas homossexuais entrevistadas, devemos ressaltar que a diferença de números é significativa, dentre os 30 entrevistados, apenas duas eram lésbicas e as entrevistadas não sofreram com o preconceito na escola e nem no âmbito familiar como já havíamos mencionado anteriormente. Partindo dessas afirmativas agora exporemos os dados referentes a pesquisa por meio da exposição de alguns gráficos.
150390210300510152025301 Sexualidade ou Orientação sexual dos entrevistados Total Travesti Transsexual Lésbica ranssexual  Bissexual  Pomossexual  Heterossexual  Homossexual                                                                                       37

Num total de trinta entrevistados, podemos observar que na sua grande maioria foram jovens homossexuais do sexo masculino de 21 à 30 anos.
1415130051015202530 Total  Faixa etária dos entrevistados  Total acima de 3021 a 3013 a 20

Nos preocupamos em pesquisar os bairros de Sepetiba e Santa Cruz localizados na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro devido ao fato de termos percebido a ausência de iniciativas, atividades e preocupação com a orientação do jovem morador destas localidades e é claro também pelo fato de esta região encontrar-se em uma situação de exclusão cultural e social expressiva, nenhuma das iniciativas tomadas por políticos tem relevância para as reais necessidades do bairro, na grande maioria dos entrevistados, a renda mensal familiar não passa de um salário mínimo, o que dificulta o acesso a bens culturais seja da espécie que for, além da quase total precariedade das escolas da rede pública de ensino da localidade, salvo raras exceções, também a dificuldade de acesso a outras localidades que possam oferecer oportunidades de inclusão social e cultural graças a precariedade no sistema de transportes local.
1812300510152025301 Bairros pesquisados Total Santa Cruz Sepetiba 38 03128340300510152025301 Renda Mensal Total acima de 2000 de 1001 a 2000 de 701 a 1000 de 501 a 700 de 301 a 500 de 101 a 300menos de 100

Quanto à escolaridade dos entrevistados notamos que estes em sua maioria ao menos conseguem completar o ensino médio, contudo tem dificuldades de prosseguir, devido a vários problemas, mesmo nos casos onde houve evasão escolar durante o ensino fundamental observamos que alguns retornam a escola ao sentirem-se seguros, mais protegidos quanto as atitudes preconceituosas, quanto a agressão e a violência e é claro quanto a postura de alguns educadores, logo podemos concluir que se trata realmente de um fenômeno ocasionado pela falta de estrutura e preparo da "instituição" e conseqüentemente dos educadores para lidar com a diversidade sexual no ambiente escolar, o aluno homossexual não sente-se "parte" integrante daquele grupo, sente-se excluído, deixado de lado. Alguns realmente não têm como retornar mais tarde e como podemos ver no gráfico abaixo, infelizmente não conseguem completar ao menos o ensino fundamental.
01448625300510152025301 Escolaridade Total Superior incompleto Superior completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Fund. 2º seg. incompl. Fund. 2º seg. compl. Fund. 1º seg. incompl. Fund. 1º seg. compl.             38

Dos trinta jovens entrevistados por meio de questionários pouco mais da metade sofreu preconceito na escola, tanto por parte dos professores como por parte dos colegas, os que afirmam não ter sofrido com preconceito atribuem este fato ao seu próprio comportamento, muitas vezes mascarando a sua orientação sexual, sentindo-se oprimidos não demonstrando suas verdadeiras personalidades por medo das conseqüências acabam por deixar a escolar do mesmo modo. No gráfico a seguir podemos ter uma idéia superficial da opinião destes jovens sobre o preconceito.
1128432300510152025301 Sobre o preconceito ( opinião) Total normal na sociedade não soube responder ultrapassado falta de cultura (acesso) Indiferença Repúdio
Em parte podemos atribuir muitos dos problemas destes jovens a ausência do comprimento do TT da orientação sexual, e a falta de atualização dos educadores e da própria instituição educacional, vê-se no gráfico abaixo que a maioria esmagadora dos jovens entrevistados não teve nem mesmo aulas de educação sexual com caráter higienizador.
1614300510152025301 Incidência de preconceito na escola Total Não Sim 40 525300510152025301 Aulas de educação ou Orientação sexual na escola Total Não Sim

Quanto a religião dos entrevistados temos:
1341210300510152025301 Religião Total  Nenhuma   Evangélico  Cientologia   Espírita  Católica                                  40
CONCLUSÃO
"O egoísmo não consiste em vivermos conforme os nossos desejos, mas sim em exigirmos que os outros vivam da forma que nós gostaríamos. O altruísmo consiste em deixarmos todo o mundo viver do jeito que bem quiser".
Oscar Wilde.

Após nossa análise dos dados coletados durante a realização do trabalho de campo, das entrevistas, enquetes postadas em site de relacionamento, observações informais etc., tivemos a impressão de que conseguimos atingir nossos objetivos inicialmente propostos plenamente, obtendo a confirmação de nossas hipóteses, inclusive a surgida durante a realização da pesquisa, no entanto, concluímos que isso não é o bastante, ainda há muito que se discutir, que se estudar, pesquisar e esclarecer quanto à sexualidade humana, seus saberes, "porquês", concepções, preconceitos etc.

Descobrimos também que muito embora na região pesquisada, os bairros de Sepetiba e Santa Cruz localizados na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, nada venha sendo feito em relação à atualização dos profissionais docentes quanto a diversidade sexual, bem como iniciativas que visem a diminuição dos preconceitos e da violência contra homossexuais e a orientação/educação sexual dos jovens, em outras regiões algumas iniciativas vêem sendo tomadas como citamos o caso do grupo GTPOS, contudo estas iniciativas precisam de incentivo e precisam ser ampliadas, os TTs existentes nos PCNs precisam ser revistos e atualizados, buscando uma verdadeira orientação, com o objetivo de direcionar o educando, de auxilia-lo na construção de seus "saberes" em todas as esferas, cultural, social, política e sexual.

Nosso objetivo ao desenvolvermos esta pesquisa não foi o de obter respostas definitivas para as questões aqui expostas, mas traçar uma reflexão sobre as mesmas, pois a vida não é uma equação matemática, e por isso mesmo não possui uma solução única e facilmente previsível, assim como as identidades; cabe aqui a citação de Louro:
"Observamos que os sujeitos podem exercer sua sexualidade de diferentes formas, eles podem "viver seus desejos e prazeres corporais" de muitos modos. Suas identidades sexuais se constituiriam, pois, através das formas como vivem sua sexualidade, com parceiros(as) do mesmo sexo, do sexo oposto, de ambos os sexos ou sem parceiros(as). Por outro lado, os sujeitos também se identificam, social e historicamente, como masculinos e femininos e assim constroem suas
42
identidades de gênero. É evidente que essas identidades (sexuais e de gênero) estão profundamente inter-relacionadas; nossa linguagem e nossas práticas muito freqüentemente as confundem tornando difícil pensá-las distintivamente. (...) O que importa aqui considerar é que - tanto na dinâmica do gênero como na dinâmica da sexualidade - as identidades são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num determinado momento" (Louro, 1997, p. 26-27).

As identidades acompanham as sociedades no que concerne a compreensão de que ambas estão em processo constante de mudança e adequação, se as instituições sociais responsáveis pela formação dos indivíduos, dentre elas aqui nos atemos à escola, produziram ou ajudaram a produzir discursos, é importante destacarmos que os sujeitos concretos não cumprem literalmente aquilo que é prescrito através dos discursos, fala-se muito sobre "a diferença", a diversidade e o direito de todos à cidadania, o que aparenta, de fato, que qualquer um pode apossar-se desse discurso, que não só é aprazível, humanitário, solidário etc., mas ao mesmo tempo visivelmente muito fácil de casar com o discurso neoliberal da atual sociedade, na qual há um mercado para tudo, e, portanto, um espaço "para todos". Os excluídos são, por esse discurso, muito rapidamente incluídos, e todos caminhamos juntos rumo à "igualdade", numa sociedade em "evolução". Entretanto pouco se sabe, e pouco se deseja saber, sobre as relações de poder que estão na base da dialética da exclusão; como alguns grupos foram, de fato, excluídos do poder, da riqueza, do status social, e quais foram as lutas históricas ainda longe de serem concluídas, que nos trouxeram até este momento, no qual, pelo menos, tais lutas tornaram-se "verdadeiras".

Por esses e outros motivos buscamos um embasamento teórico em Foucault45, para compreendermos estas questões relacionadas aos dispositivos construídos através destes discursos e não só o discurso do que é dito, mas também e especialmente o não dito, o excluído do discurso como vimos em nosso primeiro capitulo, dentre outros teóricos que trataram dos temas da sexualidade, gênero, pós-modernidade e identidade.

Partimos das abordagens teóricas, históricas para posteriormente nos atermos aos resultados obtidos em nossa pesquisa de campo, buscando desconstruir discursos retrógrados que são constantemente usados, e reafirmados no tocante das orientações sexuais, principalmente na escola.Todo nosso empenho em trazer à baila algumas questões formuladas por nossa sociedade

45
Foucault questiona a onipotência do discurso e ao mesmo tempo sua fragilidade e chama de hipótese repressiva as perspectivas de análise em geral feitas ao sexo,a que como visto no primeiro capitulo ele se opõe.                                     41

contemporânea e o nosso interesse em compreender como a escola tem se encarregado de administrar a sexualidade de seus alunos, deve-se ao fato de que estas percepções tem norteado as práticas relacionadas à sexualidade seja dentro ou fora da escola, tendo a família também , um importante papel.

Mas, como se pode buscar a transformação em uma estrutura como a da escola? Onde indivíduos embrionários são "moldados" de acordo com uma ideologia dominante, a qual reafirma concepções retrogradas baseadas em princípios medievais, calcados na ideologia de nossa sociedade capitalista, patriarcalista, machista que em nada combina com o que propõe a própria pós-modernidade e com a estrutura da sociedade atual quanto às individualidades, subjetividades e identidades.

As barreiras sociais, os preconceitos e a falta de aceitação levam muitos jovens a situações extremas, como depressão profunda, evasão escolar, a saída precoce da casa dos pais, o uso de drogas, prostituição e pior, até mesmo ao suicídio, podemos comprovar todas estas afirmativas durante nossa pesquisa.

A relação da família, dos professores, e dos jovens, adolescentes, pré-adolescentes com a questão da sexualidade, e como esta deve ser "tratada" nas escolas e no seio familiar, como lidar com o preconceito que insiste em permanecer nas mentes mais retrógradas, e, ainda sim apaziguar e fazer entender dentro da sala de aula que as diferenças existem e são saudáveis sem denegrir a educação familiar, é um objetivo bastante difícil de ser realizado, pois como dissemos no início do primeiro capítulo essa questão está "carregada" de uma história de vida ocorrida dentro de um determinado contexto social, com laços familiares e afetivos específicos, crenças, valores etc. então, como explicar aos jovens e adolescentes sem a intervenção da família e alcançando a participação e aceitação da mesma, que a homossexualidade, a bissexualidade etc não são doenças, e sendo assim não são contagiosas?, O preconceito sim é uma doença, sendo ele direcionado à raça, ao credo ou a orientação sexual, cabe ao educador e a escola conseguir conciliar a orientação necessária destes jovens com os ensinamentos religiosos, conservadores apreendidos em casa, uma tarefa senão impossível, bastante difícil.

De acordo com o que observamos em nossa pesquisa, o silêncio, o descompromisso, ou porque não chamarmos de desinteresse, da grande maioria dos educadores e/ou professores quanto à sexualidade, para não falarmos do posicionamento preconceituoso de alguns, em nada tem conseguido evitar os conflitos quanto à questão do exercício da sexualidade e da construção                                                                                                                                                     42

das identidades sexuais, e muito menos tem feito com que os jovens exerçam sua sexualidade de forma saudável e prazerosa. Aliás, o que observamos, é que não há uma preocupação em orientar os alunos como indivíduos críticos, pensantes, questionadores de sua realidade, o que encontramos na grande maioria é a realização de uma educação bancária. Há uma comparação entre as necessidades do jovem aluno em possuir um espaço aberto, livre, para a conversação sobre sexualidade e as dificuldades dos educadores em realizar esta conversação: o que acaba ocorrendo é a reprodução de fórmulas ultrapassadas que não geraram nenhum resultado no passado. E imagine em pleno século XXI?

Educar não é apenas informar, transmitir conteúdos com os quais o aluno não tenha ligação, e não encontre onde aplicá-lo em sua vida cotidiana, a diversidade existente, exige do educador posturas mais abrangentes, sendo necessária a realização de projetos pedagógicos que se articulem com a realidade do entorno da escola, da comunidade em que está inserida, No mundo atual, de uma multiplicidade enorme de acontecimentos, construções culturais, é quase impossível falar de identidade de maneira fechada e total, os indivíduos hoje se definem de forma abrangente, por isso justifica-se a adequação dos PCNs, dos educadores, dos pais com a realidade vigente.

Um mundo onde o ideal de solidariedade seja acima de tudo, um bem a ser compartilhado entre todos desde muito antes do nosso nascimento é um sonho. Ou melhor, um mundo onde o respeito pelo ser humano, seja um bem acima de tudo, raça, credo, sexualidade etc, enfim, tudo o que não precise ser conquistado. É importante sabermos que a grande maioria dos preconceitos são construídos culturalmente, e cabe a nós educadores desconstruirmos essas concepções, por meio de uma educação transformadora, da troca de experiências, do esclarecimento, da socialização do conhecimento etc.

A sociedade  em geral precisa ser alertada de que qualquer tipo de ódio, descriminação, preconceito, é uma doença, um "veneno", que direcionamos para o objeto de nossa repulsa, aqueles que possuem dentro de si este ódio é que acabam por ser envenenados por seu próprio ódio como já nos disse Shakespeare, o ódio é o veneno que tomamos desejando a morte do outro, para compreendermos o outro precisamos fortalecer a nossa própria personalidade, termos nossas próprias convicções, pois a única coisa de que podemos ter certeza acerca da natureza humana é que ela muda.                              43

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“Aprendi com meus erros, pois foi a partir deles que comecei a acertar”. Superei meus medos, pois é superando-os que se aprende o que é coragem. Procuro dá sempre o melhor de mim, para que o melhor para mim possa ser dado. Posso dizer que já sofri, já chorei, já perdi, já errei... Mas posso dizer com mais certeza ainda, que em todas estas situações eu aprendi o segredo da vitória. “Sou o reflexo de tudo em que acredito de tudo que posso ser capaz. Alguém que aprendeu que nunca se deve desistir e se por acaso chegar a desistir, nunca é tarde para começar de novo e fazer um novo fim de sua história... Amo sonhar e acreditar que todos os meus sonhos um dia se tornarão realidade. Amo amar e amo ser amado...”.Poucas horas ao lado de uma pessoa que posiciona palavras de maneira firme, poética, harmônica e que sabe usar cada uma delas no momento exato e no timbre ideal, é transcendental. Não se explica, apenas vive-se o momento. A essência de um homem é a única coisa que o move e que o aproxima de outra essência. A combinação entre as duas compõem o perfume ideal... É como fechar os olhos e viajar num vento ouvindo música tocada pelos anjos...

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