Um argumento pretende
defender uma ideia lançando mão de algumas premissas iniciais. No caso em
questão, consideramos como argumento a ideia de que a Bíblia é homofóbica.
Um contra-argumento ou
retribuição é uma objeção a uma objeção, podendo ser usado para rebater uma
objeção a uma premissa. Ele pode pretender lançar dúvida sobre a veracidade de
uma ou mais premissas iniciais de um argumento, ou mostrar que os argumentos
iniciais não se seguem a suas premissas de maneira válida, ou pode dar pouca
atenção às premissas e simplesmente tentar demonstrar a verdade de uma
conclusão incompatível com o que é estipulado no argumento inicial. No caso em
questão, o contra-argumento é a ideia de que apenas partes da Bíblia são
homofóbicas, enquanto outras parecem enaltecer a homo-afetividade (casos
Davi-Jônatas, Rute-Noemi).
Com o que chamamos de
anti-contra-argumento pretendemos lançar uma terceira ideia: a de que a Bíblia
não é um texto coeso, de que entre o Antigo e o Novo Testamento há muitas
contradições, de modo que querer defini-la no seu todo como sendo homofóbica ou
não-homofóbica é esquecer que a homofobia depende mais da interpretação que se
a dá HOJE.
Se se lhe dá uma
interpretação literalista, conectada de modo radical a um momento histórico (o
levítico-deuteronomista, por exemplo) e sem qualquer recontextualização para
com o nosso tempo atual, isso
pode ser entendido como uma interpretação homofóbica.
Por outro lado, se se
lhe dá uma interpretação contextualizadora e moderna, que considera as mudanças
históricas dentro do próprio texto
bíblico (as mudanças de costumes e aplicação de leis entre o Antigo e o Novo
Testamento, por exemplo) e as adaptações do homem ao longo do tempo, bem como
os novos conceitos biológicos, sociais e tecnológicos, isso pode ser entendido
como uma interpretação não-homofóbica e naturalmente inclusiva.
João Marinho no texto que abriu este debate
deixou claro que mesmo após o surgimento da Teologia Inclusiva a homofobia
dentro do texto bíblico não pode ser maquiada: “Mesmo com a teologia
inclusiva e supostas passagens pró-homossexualidade, não devemos maquiar a
homofobia e demais preconceitos de certos textos bíblicos. (…) Na verdade, a
questão do embate entre as diferentes formas de teologia inclusiva e as
vertentes mais conservadoras, para mim, é mais profunda do que escolher um lado
ou outro.”
Com certeza. E, ao
termos dividido acima a interpretação bíblica entre a literalista e a
contextualizadora, não estamos falando, no caso da segunda, em Teologia
Inclusiva. Estamos falando em uma interpretação naturalmente inclusiva. Qual a
diferença? No caso da Teologia Inclusiva, frequentemente, sua consequência é a
criação de “igrejas” alcunhadas de “inclusivas” que nem sequer são aceitas pela
maioria dos grupos cristãos como sendo igrejas cristãs. Já, uma interpretação
naturalmente inclusiva deveria estar disponível em todos os grupos cristãos, o
que seria muito mais producente para a inclusão da pessoa LGBT que escolheu
para sua vida religiosa o
Cristianismo.
Provavelmente o
surgimento das Igrejas Inclusivas tenha se dado pela resistência dos grupos
cristãos existentes até então em se permitirem a uma interpretação
contextualizadora como descrita acima. Para alguns, incluindo muitos gays
cristãos, tais Igrejas Inclusivas são uma aberração dentro do Cristianismo, já
que este deveria acolher a todos sem distinção, sem preconceito e sem
demonização. Para outros, elas são algo legitimamente cristão, embora o texto
de que se valem apresente dificuldades exegéticas consideráveis no caso do tema
homossexualidade e homo-afetividade. Em nosso anti-contra-argumento dizemos que
tais Igrejas são um mal necessário enquanto a inclusão do indivíduo LGBT
precisa ser algo “negociável” com relação à maioria cristã.
Walter Silva, no segundo artigo desta polêmica,
escreveu algo aparentemente óbvio, mas que não custa relembrar, dada a sua
gravidade: “(…) questionar se a bíblia é homofóbica pode parecer mesmo
uma grande ingenuidade, quando não uma pilhéria grotesca.”
É o que parece. E,
muitos comentários recebidos pelos dois artigos até aqui evidenciam exatamente
esta certeza: a de que a Bíblia é homofóbica.
Mas, João Marinho, ao citar Davi e Jônatas,
já havia argumentado: “Agora, porém, assumamos que realmente tenha
havido um relacionamento gay entre Davi e Jônatas, que a história contada seja
essa – uma homofilia bíblica, em vez de seu oposto, a homofobia. Isso
descartaria a existência da mesma homofobia na Bíblia?
Não é porque os
livros de Samuel, Reis e Crônicas exaltam o relacionamento entre Davi e Jônatas
e ambos trocaram declarações carinhosas que o Levítico e suas injunções a
certas práticas homoeróticas deixam de existir.”
Realmente, não.
Contudo, há uma polarização moderna evidente quando os teólogos inclusivos
tendem a argumentar (conforme o artigo de João Marinho) que “a Bíblia não é, ou talvez não seja,
toda homofóbica classicamente falando, como os cristãos conservadores tanto
gostam de retratá-la” e os teólogos conservadores dizem que “a
Bíblia não é nada homofóbica”.
Para João Marinho “o que é
producente, portanto, é tomar a Bíblia pelo que ela é: um livro
histórico-religioso, com um sem-número de contradições, inclusive com relação à
homossexualidade”. Isso nos leva ao terceiro argumento: a Bíblia está
desconectada de nossa realidade moderna exatamente por ser um livro
histórico-religioso escrito ao longo de milhares de anos. Isso explica as
inúmeras contradições que apresenta no tocante a vários assuntos.
Um dos argumentos mais
usados pelos defensores de Levítico para atacar os homossexuais é o de que,
segundo estes, não apenas o Antigo Testamento condena os atos homossexuais, mas
também o Novo Testamento. As demais leis judaicas de Levítico e Deuteronômio
que não aparecem no Novo Testamento teriam sido “abrandadas” pelo Cristianismo,
como as proibições alimentares, por exemplo. Mas, como Coríntios ataca os gays,
nada feito. Será? A posição inferior da mulher diante do marido, seu status de
propriedade do homem, de que deve calar-se, etc, aparece em ambos os
Testamentos da mesma forma que as críticas aos eunucos, efeminados e sodomitas.
Contudo, qual cristão hoje imagina dizer para sua mulher manter-se calada numa
conversa porque Deus assim manda na Bíblia? A misoginia foi “abrandada”, mas a
homofobia não? Conveniências? Talvez. Mas, que muitos cristãos machistas
gostariam de poder calar suas mulheres em público sob a autoridade bíblica, ah,
isso sim!
O que fazer então?
Continuar cristão gay em meio a homofóbicos, aderir a Igrejas Inclusivas ou
deixar de ser cristão? João
Marinho: “(...) não posso esperar que todos se tornem ateus
apenas por serem LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais),
quando eu mesmo, por sinal, não sou.”
Não há necessidade de
gays cristãos deixarem de ser cristãos. Por que? Porque todo e qualquer trecho
bíblico sobre homossexualidade está sujeito a interpretações diversas. E, isso
tem um motivo simples, mas crucial: na época bíblica ninguém tinha consciência
de orientação sexual, de que uma delas é a homossexual, de que isso é natural e
de que não pode ser mudada. Se tivessem tal consciência, as orientações LGBT
estariam na conta do que foi criado por Deus e não estariam sujeitas às leis
mosaicas e deuteronomistas, que são mais tentativas de regrar a vida privada
dos israelitas e judeus que preceitos divinos universais. Em suma, não são
pecado, mas interdições, a maioria delas, inclusive, dirigidas aos
heterossexuais. E, interdições, não levam ao Inferno. Apenas o pecado não
remido pelo arrependimento leva ao Inferno, segundo as crenças cristãs.
Como bem pontuou Walter Silva, na época bíblica nem
sequer havia a consciência de existirem heterossexuais e homossexuais. Só se
tratava do sexo como entre macho e fêmea. Não havia a diferenciação entre sexo
biológico, gênero, identidade e orientação sexual. Para os antigos semitas tudo
se resumia no macho-fêmea, e pretendiam que era assim também no reino animal. A
Ciência moderna colapsou tal ideia ao descobrir animais andróginos,
hermafroditas, e espécies que podem até mudar de sexo sob certas
circunstâncias. Com que animais estas espécies se alojaram na Arca de Noé???
O que quero deixar
claro com meu anti-contra-argumento é que, antes de alcunharmos o livro inteiro
chamado “Bíblia” como homofóbico, devemos declarar que a Bíblia ignora tudo o
que sabemos hoje sobre a sexualidade humana. Então, a Bíblia é ignorante quanto
à pessoa LGBT e, por tal contraste com nossa realidade atual, figura como
homofóbica. Além disso, no momento em que fanáticos preconceituosos desvirtuam
os textos e traduzem termos antigos com palavras modernas – como quando se
traduz “sodomita” por “homossexual” -, a ideia “mastigada” e falaciosa lançada
para a maioria é a de que a Bíblia condena os gays.
Mas, como pode um texto
que sequer concebe a existência de gays condená-los? Tudo no texto bíblico é
escrito numa ótica homem e mulher, macho fêmea. Ele não concebe sexo entre
homens além da noção de algo não-natural que deve ser interdito; não concebe o
amor entre pessoas do mesmo sexo que não seja o amor paternal-filial-fraternal
pois não acredita que tal amor seja possível em sua visão normativa
homem-mulher; não concebe a união/casamento entre pessoas do mesmo sexo porque
não percebe uma pessoa que mantém relações com outra do mesmo sexo como alguém
que possa amar esta outra pessoa e desejar viver toda a vida com ela de modo
equivalente a um homem e uma mulher.
Este argumento parece
simples, mas tem implicações importantes já apresentadas porWalter Silva ao citar John Richard Boswell, autor do livro “Cristianismo, tolerância social e
homossexualidade’’: "(…) Boswell foi celebrado ao expor
uma interpretação revolucionária, argumentando que a igreja no início da sua
trajetória e ao longo de uma parte do medievo, conviveu com a homossexualidade
de forma pouco conflituosa, possibilitando inclusive o emergir de uma
subcultura gay, expressando-se através de primorosos poemas e cartas eróticos
de amor e amizade do mesmo sexo, escritos por bispos e clérigos cristãos.”
Isso demonstra o que
dissemos sobre a ignorância bíblica a respeito da pessoa homossexual! Tal
ignorância, na Idade Média, serviu para uma evidente tolerância da Igreja
Católica para com pessoas com tendências ao amor pelo semelhante, o mesmo sexo,
enquanto que a mesma ignorância hoje tem servido aos setores fundamentalistas
que traduzem a seu gosto o texto bíblico para condenar os LGBTs. Se isso não
fosse verdade, não teríamos várias Igrejas Cristãs protestantes que não se
consideram “inclusivas” aceitando LGBTs entre seus fieis, ordenando sacerdotes
gays e celebrando casamentos entre homossexuais. É o caso da Igreja Luterana
nos EUA (no Brasil, infelizmente, não é bem assim), da Igreja Presbiteriana
(também nos EUA), da Igreja Anglicana, da Igreja Episcopal dos Estados Unidos,
de setores minoritários da Igreja Batista e Metodista, entre outras.
Walter Silva: “De modo contraditório os
literalistas afirmam que Deus não reconheceu a categoria dos homossexuais
(então qual o sentido de dizer que Deus não condena a pessoa gay?), que Deus
criou somente o “macho’’ e a “fêmea’’; indivíduos gays, portanto são machos e
fêmeas que se recusam a cumprir com os desígnios de sua natureza verdadeira
(heterossexual).”
A questão é mais ampla:
o Deus bíblico não cita “gays”, “homossexuais” ou “LGBTs” simplesmente porque
desconhece sua existência. Mas, dirão os beatos, como pode Deus desconhecer o
que hoje conhecemos? E, dirão os teólogos beatos, como poderia Deus reconhecer
o que não existe e é uma doença, uma aberração e uma imoralidade? E, dirão os
10% da humanidade que Deus “desconhece” ou que pensa não existirem, se Deus nos
desconhece ou se cala sobre nós porque não existimos, por que seus adeptos
colocam na boca do Criador uma condenação que não faz sentido, dados os argumentos?
Alguns setores protestantes norte-americanos entenderam isso (anglicanos,
luteranos, etc.) e deixaram de adotar posturas anti-gays. Quando os cristãos
brasileiros vão acordar? Quando deixarão de ouvir o vociferante e infernal
discurso de Malafaia, Magno Malta, Marco Feliciano e legião, e passarão a
incluir os LGBTs em suas vidas sem ódio, sem preconceito e sem demonização?
Quando dizemos que a
Bíblia é homofóbica, estamos alimentando um discurso falso de que todo o
cristão e de que todos os grupos cristãos são homofóbicos e contra os direitos
gays.
Quando dizemos que a
Bíblia não é homofóbica, pois ama o gay mas condena o ato homossexual, estamos
alimentando a hipocrisia violenta daqueles cristãos que se aproveitam deste
argumento para condenar os gays ao Inferno e para tentar impedi-los de
conquistar direitos básicos.
Porém, quando dizemos,
equilibrando as coisas:
1 – Que a Bíblia
desconhece as noções modernas de sexualidade, orientação sexual, identidade de
gênero, heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade;
2 – Que a Bíblia
condena comportamentos sob a perspectiva de que sejam efetuados por pessoas
vistas dentro do padrão macho-fêmea, sem alternativa diferente;
3 – Que, mesmo a
despeito de tais condenações, a Bíblia deve ser interpretada, contextualizada e
tornada “viva” na modernidade, sem os arcaísmos embutidos;
Quando dizemos tudo
isso, fica claro que não é a Bíblia que é homofóbica – por uma impossibilidade
histórica de sê-la –, mas os que a adotam hoje para fazer uma interpretação
arcaica, desconectada da vida humana, dos sentimentos humanos, da realidade
interna do ser humano, trabalho este que tem sido feito pela Psicologia, mas no
qual a Teologia moderna apenas engatinha.
Contudo, é certo que se a Bíblia não é homofóbica por ser
antes ignorante da pessoa LGBT, também não é um livro inclusivo pelo mesmo
motivo!
O Novo Testamento
apresenta uma noção um pouco menos ignorante da existência de uma alternativa à
visão do padrão macho-fêmea (baseado na imprecisa observação dos animais pelos
antigos) e homem-mulher (baseado unicamente nos gêneros evidentes física e
mentalmente) ao referir-se aos “eunucos de nascimento”, como brilhantemente
esclareceu Walter Silva em
seu artigo: “(…) a Bíblia repudia a afeminação não natural nos homens
heterossexuais, o sexo homossexual com prostitutos sagrados e a disposição de
alguns heterossexuais para a luxúria ocasional com o mesmo sexo.”
A tendência “feminina”
em eunucos era conhecida e aceita, portanto. O que não era aceito – ou conhecido,
já que se desconhecia também a noção de orientação sexual desconectada de
tendências masculinas-femininas – era um homem não-feminino que se desse ao
mesmo sexo, como se “feminino” fosse. Novamente, uma tentativa sutil de
encaixar mesmo os eunucos no padrão macho-fêmea, homem-mulher. Sem contar que a
mulher no ato sexual, na visão judaico-cristã, é considerada como “submetida”
ao homem, e não em caráter de igualdade, como hoje em dia. Então, como se
considerada o submetido como inferior, assim também eram considerados, como as
mulheres, os eunucos, os homens femininos e os prostitutos sagrados. Nesta
noção machista-patriarcal é inadmissível um homem não-feminino deitar-se com
outro não-feminino...
Já naquela época
bíblica, portanto, se percebe uma tentativa de conter o fator gay (ainda nem
considerado existente como hoje) dentro de uma categoria aceitável (o eunuco de
nascimento), em oposição à não aceitável (o prostituto sagrado).
Atualmente, quanto ao
tema, vemos radicalismos de ambos os lados: do lado fundamentalista, uma
tentativa de “eugenia social”; do lado de alguns LGBT que não gostam de
religião, uma tentativa de desqualificar todo e qualquer valor da
espiritualidade para a vida LGBT. Extremos nunca se entendem. Podem se tocar,
mas nunca se entendem.
O que desejam os
“patrulheiros da moral e dos bons costumes” de origem cristã? Estes
“patrulheiros” desejam que os gays voltem aos guetos, que amem seus iguais às
escondidas, sem postular direitos, casamento, adoção, benefícios iguais aos dos
heterossexuais... Querem, assim, promover no Brasil uma verdadeira eugenia social dos homossexuais aos
moldes da proposta nazista? Jamais o permitiremos!
Quando uso o argumento
da eugenia social contra
gays, muitos dizem que essa comparação é um absurdo. Mas, não é. A eugenia
(termo cunhado em 1883 por Francis
Galton), significa “bem nascido” e é o estudo dos agentes sob o controle
social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações seja física ou mentalmente. Ou seja, melhoramento genético. Hitler se
baseou nisso ao imaginar que o arianos loiros heterossexuais eram mais puros e
superiores aos judeus, negros, ciganos, deficientes e homossexuais.
Aplicando isso à noção
de eugenia social contra gays, ela significaria a discriminação de pessoas por
categorias sexuais, por orientação sexual, levando apenas a uma relativa
aceitação dos gays mais “comportados”, mais semelhantes aos padrões
heterossexuais, que seriam melhor aceitos na sociedade, mas nunca completamente
integrados, incluídos. Contudo, continuariam sendo considerados não-aptos para
a reprodução, como se, afinal, todos os gays e lésbicas fossem estéreis!!!
Segundo esta eugenia social, os melhores gays seriam os do armário, os
caladinhos, os que aceitam a ofensa, a demonização e a violência, de modo a nem
serem percebidos pela sociedade e não constituírem qualquer ameaça a “família
cristã”. Ledo engano! Não se joga para debaixo do tapete cerca de 10% da humanidade
(se não for mais!) como Hitler tentou fazer com os que ele considerava
inferiores.
Para finalizar, a
Bíblia deve ser lida e interpretada como um livro antigo, escrito por muitos
autores ao longo de milhares de anos e que não trata de todos os assuntos que
interessam à vida dos fieis com a riqueza de detalhes e nos termos modernos,
como se gostaria. É um livro sagrado – como todos os demais, aliás – para ser
estudado, esmiuçado, esquadrinhado, e não usado como arma contra outros seres
humanos por pessoas que, em geral, não entendem o que está ali escrito.
A propósito, tenho
visto pastores semi-analfabetos vomitando preconceitos como certezas teológicas
enquanto ouço dúvidas profundas e pertinentes de teólogos com décadas de
estudos. Para os primeiros, estes analfabetos de Deus que se consideram Seus
intérpretes, deixo alguns trechos do Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão:
“O Senhor de todos
não fará exceção para ninguém, e não se deixará impor pela grandeza, porque,
pequenos ou grandes, é ele que a todos criou, e de todos cuida igualmente; mas
para os poderosos o julgamento será severo.
Resplandescente é a
Sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente.
Os que a procuram
encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam.
Quem, para
possuí-la, levanta-se de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará
sentada à sua porta.
Fazê-la objeto de
seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não
terá mais cuidado.
Ela mesma vai à procura
dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e
vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos, porque, verdadeiramente,
desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la.
Mais ágil que todo o
movimento é a Sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.
Embora única, tudo
pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração
em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus, porque
Deus somente ama quem vive com a sabedoria!”
(Livro da Sabedoria,
VI. 7-8, 12-17; VII. 24, 27-28)
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*Sobre o autor
Paulo Stekel é jornalista, escritor, músico,
poliglota, especialista em religiões, tradições espirituais e línguas sagradas.
Ativista LGBT focado na relação entre homofobia e religião, é o criador do
Movimento Espiritualidade Inclusiva e possui quase uma centena de artigos sobre
espiritualidade, orientação sexual, homofobia religiosa e espiritualidade
inclusiva e é uma dos parceiros do blog mundo da anja. Contatos: espiritualidadeinclusiva@gmail.com
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