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O brasileiro André Aggi, 36 (à direita), e o marido Romain, com quem vive em Vancouver (Canadá). Aggi tenta asilo e afirma ter sido vítima de homofobia no Brasil, para onde não pretende voltar.
O advogado brasileiro André Aggi, 36, está desde novembro do ano passado em Vancouver, Canadá, e aguarda a concessão do asilo para não retornar mais ao país. “Não volto de jeito nenhum. Porque aí no Brasil eu serei pra sempre uma condição. Aqui, sou um ser humano”, desabafou, por telefone, em entrevista aoUOL.
Natural de Pouso Alegre, sul de Minas Gerais, Aggi é um dos 25 homossexuais brasileiros que tentam este ano conseguir asilo em outros países de acordo com a ONG ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais). Sobre a volta ao país natal, o advogado é taxativo: enquanto a homofobia não for criminalizada nas leis brasileiras, a possibilidade de voltar não passa, nem de longe, por sua cabeça. No Canadá, Aggi --que também é ator-- está casado com um francês.
Abaixo, um relato do brasileiro --que foi informado, pela reportagem, da posição da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República a respeito do combate à homofobia no país.
“Pedi asilo ao governo canadense em novembro de 2011, em razão da minha orientação sexual, e aguardo a minha audiência. Vim como turista. Se pedisse asilo no Brasil, acredito que nunca conseguiria.
Advoguei quatro anos e meio no Brasil, em Pouso Alegre. Não tinha dinheiro nem para uma consulta oftalmológica; aqui, mesmo ainda pleiteando o asilo, tenho seguro de saúde federal e consegui meu óculos de graça. Isso pra dizer o seguinte: falam que não tem homofobia no Brasil, mas tem, sim, nem que seja velada. E eu sentia isso mesmo para trabalhar.
"AINDA DÁ PARA VIVER AQUI", DIZ PRESIDENTE DA ABGLT
O presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais, Toni Reis, diz que a associação ainda não tem um posicionamento formal sobre os pedidos de asilo.
O motivo, diz, é a possibilidade de que parte dos autores desses pedidos se valham de casos recentes de violências contra homossexuais no Brasil como escudo a tentativas de asilo político tentados, mas não obtidos.
"Acho que ainda dá para viver aqui; se piorar, aí a gente vai mesmo ter que sair do país".
Nesse tempo em que advoguei, tive 45 casos. Perdi um só: uma queixa-crime relacionada a discriminação por condição sexual. Até de juiz, advogando, já ouvi piadinha por eu ser gay...
Eu morava no centro de Pouso Alegre e uma vez dois rapazes encapuzados me espancaram quando eu voltava para casa. Um deles colocou uma faca no meu pescoço e, perdão pela expressão, me disse: “Isso é pra você tomar vergonha na cara e deixar de ser viado”. Como esquecer isso?
Agora, quanto à Secretaria [de Direitos Humanos] dizer que combate a homofobia para que os gays, como eu, não sejamos obrigados a sair do país por conta de orientação sexual... sinceramente? Na prática não é absolutamente nada disso. Essa conversinha não convence. Digam isso aos juízes que zombavam de mim veladamente; digam isso aos tantos adolescentes que ainda sofrem bullying na escola todos os dias.
E pela proteção que me deram, pela compreensão que tive do oficial de imigração aqui –perguntaram até se eu queria assistência psicológica, para você ter uma ideia --, digo que não volto de jeito nenhum. Porque aí eu serei pra sempre uma condição. Aqui eu sou um ser humano."Aqui no Canadá o debate é tão mais avançado que você vê casais homossexuais andando nas ruas de mãos dadas, empurrando carrinho de bebê, com famílias já constituídas, sem ninguém olhando torto para eles. E não é pelo canadense ser ou não melhor que o brasileiro: é que aqui, e nos Estados Unidos, o homofóbico é um criminoso. É lei, não é questão de boa vontade.
Fonte: Janaína Garcia - Do UOL, em São Paulo
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